Pra não dizer que não falei sobre a vida: janeiro 2016

O que a gente aprende morando sozinha

Sofás costumam nos abraçar quando chegamos do trabalho e às vezes demoram pra nos soltar.

A sensação de abrir a porta e estar tudo da forma como você deixou não tem preço (embora eu queira que a casa se auto arrume muitas vezes)

Tem dias que dá uma preguiça danada de fazer comida, mas é uma delícia poder fazer somente aquilo que você gosta de comer.

Não vai dar pra fazer festa todos os dias e chamar os amigos sempre. Receber pessoas em casa demanda tempo, trabalho e gastos extras.

Ver só os programas que você gosta, ouvir só as músicas que você quer, cantarolar no chuveiro mesmo sem saber a letra, tudo isso é possível.

Comidas estragam fácil e começar a olhar a validade dos alimentos passa a ser uma rotina (confesso que já comi coisas vencidas).

As roupas não se lavam sozinhas, passar roupa é uma chatisse e tem mesmo que ouvir o conselho da mãe de separar por cores, a não ser que você queira roupas multicoloridas.

Ficar em casa sábado a noite sozinha não tem problema algum, muito pelo contrário, é até necessário pra gente organizar as ideias.

O lixo não vai sozinho pra lixeira e parece que eles se multiplicam sozinhos, essa é uma das partes chatas.

Receber quem você quer e a hora que quer, basta dar aquela organizada rápida na casa, comprar uma meia dúzia de cervejas e pronto.

As contas chegam todos os meses, independente de você ter dinheiro ou não. Internet, luz, telefone não estão incluídos na taxa de condomínio.

Você aprende a comprar carne moída no mercado, aprende a diferenciar os tipos de carne e aprende que um quilo é muita carne pra uma pessoa só.

Aprende também que um quilo de arroz dura quase uma eternidade, que o mercado fecha as 22 e que se quiser comer algo vai ter que sair pra comprar (diferente de quando a gente mora com os pais e as comidas se materializam na nossa frente)

Às vezes bate a solidão sim e seria estranho se assim não fosse. Nessas horas vale ir dormir, assistir um filme, fazer um brigadeiro ou chamar um amigo pra fazer companhia.

Ter o seu canto, as suas coisas, as suas manias e ninguém pegar no se pé por isso é sensacional.

E por fim, a gente aprende que morar sozinha envolve diferentes aprendizados e sensações, mas é uma das experiências mais ricas da vida.

04:38:00
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O que realmente importa...

essência

Não me interessa o cargo que você ocupa, qual faculdade cursou e nem quantas pós-graduações já concluiu. Não me interessa o carro que você anda, o bairro que você mora e a marca das roupas que você usa. Não quero saber seu sobrenome, se a sua família tem posses e nem se você estudou nos melhores colégios. Não quero saber se o seu terno é armani, se o seu sapato é de couro e se o seu celular tem IOS ou Android.

Não me interessa saber que bebidas você bebe, se você almoça no melhor restaurante da cidade ou leva marmita, se dorme num quarto de 2 ou 10 metros quadrados. Pouco importa se o seu salário tem 3 ou 10 dígitos, se você trabalha no sol ou no ar condicionado, se você é chefe ou subordinado. Não me interessa quantos países você conhece, quanta línguas você fala e quantos cruzeiros você já fez.

Mas me interessa sim saber como você trata o garçom, como é sua relação com sua família e quantos amigos de infância você ainda mantém. Quero saber se você tem Deus no coração, se dá importância pras pequenas coisas e se ainda não perdeu a capacidade de se encantar com coisinhas pequenas. Me interessa saber se você faz suas próprias escolhas, se responsabiliza por elas e tem coragem pra arcar com suas consequências. Quero saber dos sonhos que você tem, se está correndo atrás deles e o quanto tem lutado para realizá-los.

Também quero saber das suas dores, quais são suas feridas, onde ainda sangra e o que em você precisa ser cuidado. Quero saber o que faz seus olhos brilharem, o que faz seu coração acelerar e o que lhe tira o ar. Me conte também sobre os seus medos, sobre suas frustrações e derrotas. Quero saber quantas pessoas você já perdoou e pra quantas já pediu desculpas. Também me conte qual o motivo que faz você acordar todos os dias e querer continuar vivo. Me diga quem mora no seu coração e como chegaram até lá. Quero saber das vezes que você pensou em jogar tudo pro alto e desistir de tudo. Me conte da sua infância, da sua brincadeira favorita, da sua comida preferida, dos seus amigos de escola e do seu primeiro amor.

Meu amigo, não me interessa o que você tem, o que quero mesmo saber é quem você é, como você vive e quem vive em você. Pouco importa seu status, sua casca e seus bens materiais. Mais importante do que os lugares para os quais já viajou é o encantamento que teve diante de uma nova paisagem. Mais importante do que os dígitos na sua conta é a qualidade dos seus amigos de verdade. Mais importante que a marca das roupas que você usa são as marcas que já deixaram em você. Mais importante do que o cargo que você ocupa é o lugar que eu ocupo no seu coração. O seu valor está naquilo que ninguém pode roubar de você e é somente isso que me interessa.

07:35:00
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O que os caminhos que você não percorreu dizem sobre sua vida e suas escolhas

caminhos

Costumamos ouvir que somos a soma das nossas escolhas e que somos resultado daquilo que já passamos. Depois de algumas conversas e um tempo de reflexão, cheguei a conclusão que nós somos também a soma dos caminhos que não percorremos, das paisagens que não apreciamos, do caminho oposto àquele que decidimos escolher. Quantos caminhos deixamos para trás? Quantos amigos deixamos de conhecer? Quantos céus estrelados a gente não apreciou?

Que escolhas são renúncias isso a gente já está cansado de saber... Mas o que estas renúncias dizem sobre nós? E se tivéssemos ido pelo outro caminho? O que nós deixamos pra trás também fala sobre a nossa vida, também constitui nossa personalidade, também diz quem somos.

Já deixei muitos caminhos pra trás e alguns eu perdi o rumo de volta e não sei como voltar pra optar pela outra direção... Alguns eu voltei e optei pelo outro trilho e me dei conta que tinha perdido muita coisa tentando insistir numa escolha errada, mas que eu não queria abrir mão. Dos caminhos que deixei de percorrer, alguns eu nunca saberei como seriam... Porque eu não tenho vontade de saber, ou porque o caminho já se fechou e nem existe mais.

E assim vamos fazendo escolhas, deixando pra trás lugares, pessoas, sonhos... O que é mais dolorido é quando a gente vê que estamos ali apenas porque outra pessoa escolheu aquele caminho e nós nos deixamos influenciar. E ai a gente se dá conta que tá vivendo os sonhos do outro, ta apreciando as paisagens que o outro curte, tá conhecendo as pessoas que ele gosta, tá pisando onde ele quer pisar.

Escolher sempre vai implicar a renúncia de algo ou alguém e por isso é tão importante que essas escolhas sejam feitas de forma consciente e individual. O outro não vai escalar montanhas por você, não vai queimar o seu pé na areia quente, não vai caminhar por você, não vai sentir a sua falta de ar. Portanto, faça as suas próprias escolhas, decida os caminhos que quer seguir e os que quer renunciar, aprenda a apreciar o trajeto e não só o ponto de chegada e se não estiver feliz... Volte. Ou invente um novo caminho. Ou simplesmente aceite que a sua infelicidade é fruto da sua própria decisão, ou da ausência dela.

Garantias não há. Mas tem sempre a possibilidade de você largar tudo, achar um novo caminho e descobrir o quão bonito é aquilo que você tinha deixado para trás. Ainda dá tempo sim, você está vivo e isso já basta.

07:10:00
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Não vale a pena

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05:37:00
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As coisas mais lindas da vida são gratuitas

beleza

08:33:00
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Sobre se responsabilizar pelos seus atos

amor

04:39:00
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Onde a gente se encontra mesmo?

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Ela é independente, mora sozinha, dirige seu próprio carro, paga suas contas, viaja com as amigas, faz sua comida, trabalha mais que 8h por dia. Ela também cuida do cabelo e das unhas de vez enquanto, vai ao dentista, leva o carro no mecânico, abre garrafas de vinho, senta num bar pra beber cerveja. Ela gosta do mar, tem preguiça de lavar o carro, pratica exercícios quando tá afim, come direitinho mas extrapola várias vezes. Quando quer, quer, quando não quer, diz. Ela não é adepta do "eu também", tem sua opinião, escolhe seu próprio prato e não gosta de pegar carona.

Ele convida ela pra jantar, "as nove passo na sua casa", não não, nos encontramos lá nesse mesmo horário. Ele estranha mas aceita. Ele pede seu prato. Ela escolhe o seu. Ele pede cerveja, ela um mojito. Hora de pagar a conta, "deixa que eu pago", não não, vamos dividir. "Posso lhe acompanhar até em casa", não, eu sei bem o caminho. Ela vai pra casa dela, e ele pra dele. Ela sabe que foi só mais um jantar e por isso não criou expectativas. Ele não sabe nem o que pensar. Como assim ela não veio comigo? Como assim ela não pediu o mesmo prato que eu? Como assim ela não me deixou acompanhá-la até em casa? Calma meninos, é perceptível que os tempos mudaram e que vocês ainda não estão acostumados com toda essa independência feminina. Sabe-se que a teoria da evolução (simplificando muito) nos diz que os homens nasceram para serem caçadores/coletores e as mulheres para cuidar da prole e da casa. Mas, anos e anos se passaram e assim como inventaram o fogo e a roda, também houve mudança na forma de viver e conviver. Eis que as mulheres decidiram sair da "toca", foram trabalhar, assumiram o comando da casa, aprenderam a caçar e colher o seu próprio alimento. Ainda estamos todos um pouco perdidos... Os homens sentindo-se inúteis já que a função que lhes era exclusiva teve que ser compartilhada, e as mulheres equilibrando-se entre as tarefas de casa que ainda continuam suas e as tarefas da "rua" que ela decidiu também desempenhar. Não há problema algum com a troca de papéis, com os homens na cozinha e as mulheres pilotando aviões. Mas a gente precisa se entender, a gente precisa conversar, a gente precisa chegar a um consenso. Se você é homem e continua querendo ser caçador e coletor e a sua esposa também quer continuar cuidando da casa e dos filhos, tudo bem, mal nenhum há nisso, contando que ambos concordem. Mas que cada um escolha o seu caminho e a sua forma de caminhar. Ainda estamos todos nos adaptando, ainda estamos buscando nosso lugar ao sol e nosso espacinho no mundo. Sem preconceitos, sem julgamentos, sem esteriótipos e sem obrigações. Cada um escolhe como quer viver e ao outro cabe aceitar, se adaptar ou correr. E quanto ao cara lá de cima, ele decidiu correr... E ela decidiu nem começar.

07:58:00
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E agora?

desejos

Caminhava sozinha na praia quando me deparei com um objeto brilhoso. Pude avistar de longe e quis chegar perto para saber do que se tratava. Abaixei-me para pegar e mal toquei o objeto quando fui surpreendida por uma voz que lá de dentro me dizia:

- Por ser curiosa, ao contrário do que você pensa, você não poderá fazer três pedidos. Hoje você terá que eleger três coisas suas que serão tiradas da sua vida, e não conta objetos materiais.

E a voz se calou, nem permitiu que eu fizesse pelo menos uma pergunta ou que arrependida jogasse aquele objeto pra bem longe. Me convenci de que seria uma ótima ideia, poderia assim me livrar de 3 coisas que tem me incomodado. Só não sabia por onde e pelo o que começar. Vamos lá. Quero que o meu medo suma. Mas calma, deixa eu pensar mais um pouco. Olhando por outro lado, ele já me livrou de várias ciladas, já me impediu de entrar em roubadas e ele nem tem me atrapalhado tanto assim. Deixa o medo então. Pensei em me livrar da TPM, mas coitada, ela nem causa estragos tão grandes assim, e até serve pra fazer uma manha de vez enquanto e comer uns chocolates extras. Já sei, quero me livrar das minhas oscilações de humor. Ah, mas que graça teria, isso já faz parte de mim, já me diz quem sou e até eu já me acostumei com esse te amo e te odeio ao mesmo tempo. Revirei meu passado e presente e não achei nada que me incomodasse tanto a ponto de eu querer me livrar assim.

Mas o que eu diria para a voz agora? Logo eu que tinha achado a ideia tão brilhante no início, não queria mais me ver livre de nada. Já estava elaborando meu discurso quando o relógio despertou, sim, era óbvio que aquilo só poderia ser um sonho. Acordei feliz por saber que minha vida não é perfeita, mas está ótima assim, do jeitinho que está. Com medo, com tpm, com oscilação de humor... Com humanidade. Nada que me paralise, me bloqueie ou me impeça de buscar o que me traz felicidade. Que bom que era só um sonho... Assim eu continuo com tudo o que é meu por aqui.

09:06:00
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Aos que aqui estão e aos que ainda chegarão

belezas naturais

Turistas, viajantes, mochileiros, desbravadores... Sejam bem vindos ao nosso estado. Desejo que a estadia de vocês por aqui seja alegre e cheia de descobertas. Saiam de casa de olhos e coração abertos, dispam-se dos preconceitos e venham dispostos a conhecerem o novo. Aqui tem muita praia, mas tem serra e montanhas também, da pra agradar a quase todos os gostos. Faz frio, calor, venta, chove e abre o sol, tudo em menos de 24h, portanto, venha preparados pra desfrutar das 4 estações. Se não é pedir demais, leia o nosso código de trânsito e se informe das nossas sinalizações básicas, será muito útil pra vocês e pra nós também. Sabe, nem todo mundo que está aqui está de férias, aliás, a maioria não está, portanto, colabore. Evite trafegar nas principais vias entre 7 e 9 da manhã e 17 e 19 da tarde, facilita pra gente e pra vocês também. Respeite também os horários de silêncio, grande parte dos seus vizinhos irá acordar antes das oito no dia seguinte. Assim como você não tem obrigação de saber falar português, nós também não temos de entender seu espanhol, italiano ou inglês, então, vamos nos ajudar, uma mímica aqui, um desenho acolá e tudo se resolve. Eu sei que você ouve falar do jeitinho brasileiro, mas não pense que todos aqui seguem esse padrão e concordam com isso, portanto, procure fazer as coisas corretamente. Se está escrito que é proibido, e proibido mesmo, então respeite. Enquanto você estiver por aqui, essa será a sua casa, cuide, preserve e recolha o seu lixo, a natureza e todos nós agradecemos. Você gostou daqui não é? Então ajude a manter as coisas como estão, seus netos também gostarão de conhecer esse lugar. Experimente-se... Mergulhe, salte de paraquedas, faça uma tirolesa, desça num tobogã, faça stand up. Não deixe de provar os nossos queridinhos frutos do mar. Eu sei que eles não têm lá uma aparência muito convidativa, mas posso garantir que é inversamente proporcional ao sabor. Não saia daqui sem provar uma ostra gratinada e um camarão alho e óleo. Faça trilhas, ande descalço, tome banho de chuva e de cachoeira, use menos o carro, pedale na orla, faça um passeio de barco, experimente nossa cachaça artesanal... E esteja aberto e disponível para se encantar com o que há de belo por aqui. Converse com as pessoas, conheça a nossa cultura, aprenda a cantar uma música brasileira, prove a nossa caipirinha, arrisque um passo de samba... Isto é Santa Catarina, isto é Brasil. Vocês são bem vindos aqui, mas deixem tudo da mesma forma que encontraram. Contemplem, admirem, se emocionem mas não queiram alterar o o curso normal da natureza. Basta ver, basta sentir, basta estar aqui. Levem fotos e boas histórias pra contar. Levem a saudade do banho de mar e do por do sol, da caipirinha e do friozinho ao anoitecer. Nosso trânsito fica mais caótico, nossas praias mais lotadas, nossa rotina mais agitada... Mas é um prazer saber que nosso estado é um destino escolhido por vocês. Não saiam daqui da mesma forma que chegaram... Que estes dias nesse pedacinho de terra sirvam para deixá-los mais alegres, mais bronzeados e mais conscientes da necessidade de preservar aquilo que admiramos. Até breve. Nos encontramos aqui ou num destino qualquer desse mundão afora.

18:54:00
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As fugas nossas de cada dia

amizade

A vontade vinha sempre depois de ser contrariada ou de ter levado uma bronca daquelas, sei que eu juntava meia duzia de roupas, enrolava numa trouxa e dizia decidida: vou fugir de casa! É óbvio que o mais próximo que cheguei disso foi atravessar a porta e voltar correndo com medo de que a mãe não me aceitasse mais de volta. Fugir parece sempre uma decisão boba de quem é incapaz de resolver seus problemas e acredita que fugindo haverá de solucioná-los. Na maioria dos casos é isso mesmo, mas confesso que pra muitas situações, a fuga ainda é importante.

Você foi amiga de verdade, estendeu a mão quando ela precisou, ficou horas tentando acalmá-la ao telefone, saiu da sua casa para socorrê-la naqueles dias de perrengue, emprestou seu ombro, sua jaqueta e seus ouvidos. Você tentou de todas as formas reatar aquela amizade, se fez presente, ligou, tentou marcar algo, se preocupou... Do lado de lá nenhuma reciprocidade. Finalmente você cansou e também decidiu partir daquele terreno onde você já estava morando sozinha. Claro que você levou as boas lembranças, os momentos compartilhados, as risadas que deram juntas... Mas foi preciso fugir. Você olhou pra trás com tristeza, demorou pra aceitar que aquela amizade já não existia mais... E se foi.

E ai você ficou meses empurrando aquele relacionamento com a barriga, fingindo que estava tudo bem, que era só uma fase e tudo voltaria ao normal. Era qualquer coisa, menos amor. Ele se foi mas você continuou morando ali. Telefone sempre a mão na esperança de que uma ligação fizesse as coisas voltarem a ser como antes. Ele foi viver a vida dele, sequer olhou pra trás, sequer quis saber como você ficaria. Os dias foram passando e nada dele voltar. Até que você decide arrumar as trouxas dele que ainda viviam em você e jogá-las fora, assim como ele fez com tudo que vocês tinham vivido. Ai você pega o seu amor próprio, sua capacidade de viver sozinha e foge.

É preciso fugir quando estamos inteiros e do outro lado só metades, fugir quando o esforço é só unilateral, fugir quando as forças já se esgotaram e a nós só resta juntar as nossas coisinhas e partir. Fugir nem sempre é covardia, às vezes é a única coisa que nos resta perante a todas as possibilidades que foram se esgotando a cada dia.

Do que você precisa fugir hoje? De uma amizade desgastada? De um amor não correspondido? De um emprego que lhe deixa infeliz? Fuja quando quiser e volte quando e caso se arrepender. A vida é isso mesmo, essa infinidade de começos, términos e recomeços.

06:22:00
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Das cartas que nunca escrevi

aprendizado

Se eu agora com meus 28 anos escrevesse uma carta para mim mesma com 18 anos, seria mais ou menos assim...

"Antes de mais nada, quero lhe dizer que sim, seu esforço vai valer a pena. Vai valer a pena acordar antes do dia clarear, pegar 3 ônibus, chegar na faculdade antes dela abrir, ler todos os textos que os professores lhe sugerirem e alguns além. Mas quero lhe dizer pra não se preocupar tanto e não querer abraçar o mundo sozinha.

Continue valorizando a nossa família, continue respeitando nossos pais. Ah, logo logo você vai ficar com o quarto todinho, nossa irmã vai casar, e daqui há alguns anos teremos uma sobrinha linda. O mano vai continuar o ciumento de sempre, mas não se chateie, é o jeito dele de cuidar e proteger.

Valorize os amigos, ainda mais. Muitos deles estarão do nosso lado por muitos e muitos anos, mas alguns a gente não vai saber cultivar e vamos perdê-los. É triste, eu sei, mas algumas perdas são inevitáveis. Valorize as pequenas coisas, os momentos ao lado de quem você ama, as alegrias do dia-a-dia.

O que eu tenho pra lhe falar agora é um pouco mais complexo, mas depois de dez anos, alguns bons tombos, um punhado de decepção e muitas histórias pra contar, posso dizer que já tenho alguns conselhos pra lhe dar. Sim, você já deve imaginar que estou falando de relações amorosas né? Não, você não vai casar com seu primeiro namorado, aliás, não sei se você vai casar. Mas aproveite mesmo assim, viva o pra sempre até que ele acabe. Você ainda vai passar muitas noites em claro, vai achar que o seu mundo acabou, vai querer voltar no tempo e vai até desacreditar do amor. Mas acredite, a vida é muito curta e única certeza que temos é em relação a morte, portanto, vá viver. Se apaixone mesmo, se entregue mesmo e se quebrar a cara, tudo bem, faz parte do jogo. Levanta a cabeça, sacode a poeira e vai.

Não seja tão medrosa, a maioria das suas previsões catastróficas nunca vão se realizar. Ah, por favor, estude inglês, mas estude com determinação, ele está sendo bem necessário agora. Você nem imagina, mas nós ainda vamos conhecer um pedacinho desse mundão a fora, parece inacreditável não é, mas nós iremos. Por enquanto, continue estudando e se dedicando ao curso que escolhemos, vamos colher bons frutos. O mundo é muito maior que você imagina. Aprenda a respeitar as diferenças e não julgue o modo de vida de cada um, você terá opiniões bem diferentes depois de algum tempo.

Por fim, quero lhe dizer pra continuar acreditando nas pessoas. Algumas vão lhe decepcionar, mas muitas irão lhe surpreender. A vida é linda, e acredite, ela ficou ainda melhor com o passar dos anos. Apenas arrisque mais e não tenha tanto medo. E quer saber? Se você achar que nada disso faz sentido, desconsidere e faça tudo do seu jeito.

Um beijo do seu futuro. Fico por aqui, torcendo pela nossa felicidade!

04:44:00
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NÃO!

aprendizado

A vaga NÃO é sua. Eu NÃO te amo mais. Você NÃO foi aprovado. O seu financiamento NÃO deu certo. Sua saúde NÃO está bem. Você NÃO passou para a próxima fase. Quantos NÃOs temos recebido da vida? É comum acharmos que o NÃO tem sempre uma conotação negativa, e em muita vezes ele tem mesmo, mas não podemos esquecer que alguns deles foram necessários e úteis para o nosso crescimento e nossa mudança de vida. De sonhos frustrados a amores que tiveram um fim, um NÃO inevitavelmente vem acompanhando da necessidade de mudança, de readaptação, de recomeço. E quantas portas só se abriram depois de um doloroso NÃO? E quantos outros sonhos só foram possíveis de construção após várias respostas negativas? E quantas vezes descobrimos que aquilo que queríamos não era o melhor pra nós? Nossa tendência é olhar com tristeza e pesar para aquilo que nos é negado e acabamos por esquecer que às vezes, uma porta fechada, significa muitas outras janelas abertas. Desde a infância somos cercados de: não mexe ai, não sobe, não pula, não faz... E acabamos crescendo com a ideia de que o não simboliza sempre a privação de algo, o rompimento ou a não realização de algo que queríamos. Errado. Um não agora pode ser o empurrão que nos faltava para ir buscar algo melhor. Um não pode simbolizar o fim de um ciclo patológico a qual nos mantínhamos vinculados apenas por comodismo. Enquanto ainda estivermos vivos, um não virá sempre carregado de novas possibilidades. Observemos a natureza, uma planta só cresce depois que uma semente morre. Sim, muitos desses NÃOs nos foram bem doloridos, nos custaram caro, significaram a morte de algo que nos foi muito importante, nos deixaram estáticos e imóveis procurando uma saída e alguns até nos roubaram as esperanças. Mas, hoje não importa quantos NÃOs você tenha recebido até aqui, não importa quantas portas se fecharam e nem quantos ciclos encerraram. Hoje é um novo dia. Se o relacionamento acabou, se o financiamento não rolou, se a promoção não saiu... Outros amores virão, outros sonhos poderão ser construídos, outras oportunidades baterão a sua porta. Vá a luta e não pare de caminhar, nem sempre o caminho mais curto nos conduz ao destino esperado, nem sempre uma mudança de rota significa que não chegaremos lá. Estejamos abertos às surpresas que nos esperam e prontos para mudar a rota e até mesmo o destino. É segunda-feira, é janeiro, é início de um novo ano... Desejo muitos SIMs pra sua vida. Que seus sonhos se realizem, que você consiga o que almeja, que seu amor permaneça. E alguns NÃOs que lhe impulsionem a buscar o novo, o inesperado, a rota alternativa. E que a gente seja feliz, com e apesar dos NÃOs que ainda receberemos.

04:09:00
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E sem photoshop, como você é?

aparências

Já existe aplicativo pra tirar rugas, melhorar a cor da pele, diminuir a cintura, aumentar o bumbum e até pra fazer maquiagem nas fotos. Todos com um único objetivo: deixar a foto mais bonita, atrair seguidores e curtidas, enfim, embelezar um pouquinho (ou muito) a realidade. Nada contra quem usa, nada contra quem perde seu tempo querendo passar uma imagem distorcida de si mesmo e da sua vida. Mas, o que tem por trás de tudo isso? Quais as implicações pra essa nova geração que está crescendo achando que o mais importante da vida é fazer pose pra foto e encontrar o seu melhor ângulo? Parecer ter uma vida perfeita, jantar nos melhores e mais fotogênicos restaurantes, tirar as melhores fotos, saber usar todos os aplicativos de embelezamento? Por trás da foto tem uma olheira de uma noite mal dormida, tem uma marquinha por ter esquecido do protetor solar, tem dentes que nem são tão brancos assim, e por incrível que pareça, tem um ser humano. Acredite, ninguém é mais feliz, mais legal ou mais bem sucedido na vida por ter fotos mais bonitas, afinal, a realidade é o que acontece entre um flash e outro. Nossa vida de verdade é o que se passa no apagar das câmeras, quando ninguém está vendo, quando não estamos preocupados em sair mais magros e sorridentes na foto. Não estou querendo levantar uma bandeira para acabar com as fotografias, aliás, elas tem um papel importante, elas nos remetem a boas lembranças, nos ajudam a matar um pouquinho a saudade, nos mostram por onde passamos. O que quero dizer é para não nos preocuparmos tanto com elas, pra não vivermos em função disso, pra não entrarmos na paranoia de analisá-las com uma lupa pra eliminar qualquer defeito. Afinal, quem lhe conhece apenas por foto, não conhece de verdade. Você não é só um carão, um cílio postiço e um mar azul de fundo. Você é muito mais que isso. Mergulhe, se descabele, fique sem maquiagem, esqueça os cílios, foto bonita é foto de gente feliz. A vida está acontecendo enquanto você tenta a todo custo achar o melhor angulo pra selfie, enquanto você passa horas pra deixar a sua pele no mesmo tom. Vá viver menina. Quem gosta mesmo de você quer te ver pessoalmente, não suas fotos. Quer saber seu cheiro, sua textura, quer ver suas sardas, seu cabelo meio bagunçado. Quer a sua espontaneidade, seu sorriso e todos os seus ângulos.

10:16:00
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E a gente se acostuma... Mas não deveria

aceitação

A gente começa se acostumando com uma desculpa esfarrapada aqui, um jantar cancelado ali. Depois se acostuma com as mensagens que vão ficando sem resposta, com os convites desfeitos, com as grosserias do dia-a-dia. A gente se acostuma e se acomoda. Ano que vem muda, quando casar muda, quando tiver um filho muda, quando se aposentar muda... Meu caro, não muda. Aliás, pode até ser que mude, mas pra isso é necessário que a pessoa queira muito e faça um esforço bem considerável. E quando nos damos por conta, percebemos que estamos aceitando tudo um pouco pela metade. Meio amor não é amor. Meia verdade não é verdade. Você faz as coisas corretamente, ama sem reservas, se esforça pra agradar, faz tudo que está ao seu alcance pelo bem do outro, perdoa, deixa de estar com seus amigos para estar com ele, controla o seu ciúme, elogia... E do outro lado? Respostas vazias, sentimentos pela metade, desculpas e mais desculpas, zero entrega. Ah, mas amor não é relação de troca. Sim, não é mesmo, mas é questão de reciprocidade. Ou você entra numa relação pra ser inteiro, ou melhor continuar com seu status de solteiro. Ninguém é obrigado a estar com ninguém, mas se você optou por isso, pelo menos se esforce. O que não dá é pra passar o dia plantado ao lado do telefone esperando um convite que não vai acontecer. O que não dá é pra aceitar migalhas sabendo que você merecia o bolo inteiro. Não da pra se contentar com uma linha inteira cheia de carinhas que não dizem nada. Não dá pra aceitar respostas evasivas ou somente um "eu também" pronunciado mecanicamente. Acorda menina, você merece muito mais que isso. Não se acostume com relações pela metade, palavras pela metade, sentimentos pela metade. Há sempre alguém querendo se doar por inteiro, querendo viver uma história por completo. Mas enquanto você continuar ocupando esse espaço com metades, não dará espaço para inteirezas. Aproveita que o ano acabou de começar e decida de uma vez por todas que daqui pra frente, ou vem pra somar, agregar, ou melhor sumir.

04:40:00
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