O que eu quero pra hoje? Quero um dia lindo de sol, feito esse que está fazendo lá fora. Quero uma rede na varanda, de frente pro mar. Na trilha sonora, quero gargalhadas de bebês. Quero a companhia de borboletas, pássaros e pessoas queridas que fazem parte do meu mundo. Além disso, quero uma consciência tranquila pra poder balançar na rede sem preocupação. Quero adormecer tendo certeza que cumpri o meu papel, que dei o melhor de mim e fui o melhor que eu poderia ser. Pra hoje quero boas recordações, fotos de infância e de viagens e uma nostalgia daquelas boas de sentir. Quero chorar de rir, me emocionar frente aos milagres da vida e cantar, mesmo que seja pra ninguém ouvir. Quero som de saxofone e violino enquanto eu danço no ritmo que eu bem entender. Quero bolinhos de chuva da mamãe, e não importa que lá fora esteja o maior sol, eu gosto dos contrários assim mesmo. Quero também o colinho de papai, aquele que tem o poder de transformar meu pranto em riso. Quero fazer planos, muitos planos, e que eu tenha ao meu lado alguém que queira estar presente neles. Quero Martha Medeiros, Rubem Alves e Padre Fábio de Melo em formato dos meus livros preferidos. Pra hoje eu quero um banho de mar e uma prancha de stand up pra apreciar o por do sol. Vou falar dos meus sonhos, dos meus medos e do quanto eu sou indecisa com algumas coisas. Vou contar sobre a minha infância e vou lembrar de todas as pessoas que fizeram parte dela. Pra hoje eu quero a alegria de saber que eu estou viva, que eu tenho saúde, que estou no caminho certo e tenho ao meu lado pessoas incríveis. Pra hoje eu quero ser eu, sem armadura, sem maquiagem, de pés descalços e coração aberto. É só isso, é muito isso, é tudo isso. E não é imaginação, é só meu coração dizendo onde ele queria estar.
Qual a lembrança que você quer deixar ao mundo e as pessoas quando a única coisa que restar de você for apenas as recordações? Como você quer ser lembrado? Que sentimentos você quer despertar quando pronunciarem seu nome? Da minha parte, quero deixar a lembrança de um rosto sorridente e de alguém que não fez mal a ninguém. Quero que lembrem, e porque não, das minhas mudanças bruscas de humor mas também do quanto uma única palavra já me arrancava um sorriso do rosto, mesmo em meio a lágrimas. Quero que lembrem de mim como uma apaixonada pelo mar, pela vida, por Deus e pelas pessoas. E você, que sementes tem espalhado por aí? Tem feito o bem? Tem perdoado? Tem marcado positivamente a vida das pessoas? Sua vida pode ser qualquer coisa, menos insignificante para você e para os outros. Mas ainda dá tempo, ainda há possibilidade de você rever as suas sementes bem como o terreno que você as tem plantado. Acho engraçado quando as pessoas lá no fim da vida fazem comentários do tipo: me sinto tão sozinho, meus filhos e netos quase não vem me visitar. Ai eu lhe pergunto: você cultivou o amor deles enquanto podia? Beijou, abraçou, deu colo, apoiou? Ou passou de forma pouco marcante pela vida dos seus? Em terreno que se planta girassóis não florescem gerberas. Nós somos os semeadores, somos nós que cultivamos o terreno, somos nós que escolhemos a semente... Não está gostando da colheita? Mude a forma de cultivo, ou escolha outro terreno e outras sementes. As lembranças que você deixará após sua partida serão os frutos das sementes que você plantou. Então, vamos espalhar sementes de amor, bondade, esperança, alegria... Se você não colher, outros colherão... Mas pelo menos você poderá dizer que fez a sua parte no cultivo de um mundo mais bonito e florido.
Era domingo. Estávamos sentados ao redor da mesa, e entre um gole e outro de qualquer coisa falávamos sobre assuntos diversos. Não demorou muito para que o assunto girasse em torno de relacionamentos. Claro que nós mulheres queríamos falar todas ao mesmo tempo pra contar todas as nossas histórias trágicas e melodramáticas. Entre um "ele me traiu" e um "como eu pude ser tão trouxa" dávamos risadas e proferíamos um "comigo foi assim também". Sim, foi comigo, foi contigo e ainda será com muita gente. Poucas pessoas passarão por essa vida sem terem tido uma decepção num relacionamento amoroso. Até ai tudo bem, uma decepçãozinha não mata ninguém. Mas o que tem me preocupado é que no fim há uma desesperança generalizada em relação a relacionamentos. E não estou falando de adolescentes dramáticos que prometem não namorar nunca mais depois do término do primeiro rolo, estou falando de homens e mulheres que já viveram algumas histórias, que ja estão na casa dos 20 ou 30 anos e tiveram 2 ou 3 relacionamentos sérios. Os sentimentos são os mais diversos, desde o nunca mais quero namorar até o eu não consigo me apegar. No fim das contas, estamos brincando de gato e rato e temos um discurso pronto que nos protege das nossas fraquezas. Na época dos nossos pais era fácil, eles se conheciam numa festa de igreja ou na escola, namoravam, casavam e viviam felizes pra sempre. Mas e agora? Frequentamos vários lugares, conhecemos pessoas de todos os cantos, nos comunicamos com vários ao mesmo tempo... Mas estamos com medo, não conseguimos confiar, estamos na defensiva... Nosso histórico de relações mal sucedidas somado ao histórico daqueles com os quais no relacionamos resulta em relações superficiais, vazias de sentimentos e repletas de desconfiança. Somos a geração mais bem sucedida profissionalmente e em contrapartida a mais mal resolvida quando o assunto é relacionamento. O que nos resta é torcer para que as nossas dores e os nossos medos encontrem também outras dores e outros medos, e que a soma disso não resulte em mais dores, mas sim, em mais amores.
"Ali adiante, na hora de fazer um balanço, o valor não estará nos cifrões, a contabilidade será outra: quantos amigos? Quantos sorrisos? Quanta felicidade? Quanto amor? Derrota é quando a gente ganha dos outros mas desiste de si mesmo." Martha Medeiros entende da contabilidade da vida. E afinal, o que vale a pena mesmo? Vale são os suspiros de emoção que você deu quando recebeu aquele abraço de alguém especial. Conta é a quantidade de sorrisos que você distribui ao receber aquela boa notícia. Vale os beijos apaixonados que lhe tiraram o fôlego. Conta é o número de lágrimas que você ajudou a secar daquele amigo que tava enfrentando a maior barra. Vale a quantidade de vezes que você perdoou alguém e sentiu uma paz enorme por isso. Conta também os erros que você já cometeu e com isso aprendeu a não voltar a comete-los. Vale as inúmeras palavras de carinho que ajudaram a amenizar uma dor. Conta os silêncios que você já fez quando sabia que palavra nenhuma faria sentido naquele momento. Vale o bem que você fez sem esperar nada em troca. Conta as noites que você encostou a cabeça no travesseiro e dormiu com a consciência tranquila por saber que suas ações não causaram mal a ninguém. Vale as portas que se fecharam para você mas que no lugar delas abriram-se muitas janelas que você nem imaginava que existiam. Conta os olhares apaixonados, as declarações de amor, as mãos dadas no cinema e todas as promessas de um pra sempre, mesmo que esse pra sempre já tenha acabado. Vale os colinhos de pai e mãe que sempre sabem quando a gente precisa deles. Conta são todos os "Eu te amo", "Você é muito importante pra mim", "Me desculpa, o erro foi meu" que já dissemos e já ouvimos. Porque é isso que faz os nossos dias melhores. É isso que colore a nossa vida com tons de amarelo, azul, rosa, vermelho, laranja e azul. Saldos, extratos, cifras... Tudo é passageiro e se esvai com o tempo... O que fica é o que tem valor imensurável. O que fica são as emoções, os sorrisos, os abraços, as palavras, os silêncios... Enfim, o que fica é que o nosso coração sente e eterniza.
Não basta perdoar os outros e não basta que os outros nos perdoem se não conseguimos perdoar a nós mesmos. Perdoar a si é aceitar que somos humanos e como seres imperfeitos iremos cometer diversos erros ao longo da vida. E isso envolve permissão. Permitir-se é olhar para nossos erros com arrependimento sim, mas sem culpa e sem auto-condenação. A experiência do erro nos coloca frente as nossas fragilidades. Considero que a parte mais difícil de aceitar um erro cometido por mim é quando isso envolve magoar outras pessoas. Tenho dificuldade pra aceitar que uma outra pessoa está chateada comigo, que causei algum sofrimento a alguém ou que decepcionei devido a algum comportamento inesperado. Mas, é preciso que a gente se aceite. É preciso seguir: errando, perdoando, caindo, levantando, mas seguindo. Aceitar a nossa condição humana é saber que nosso trajeto envolve muitos erros, muitas quedas, alguns arrependimentos, recálculos de rota, tropeços inesperados... E aceitando isso saberemos que as pessoas que convivem conosco também terão o direito de errar. Nossos pais erram, nossos amigos erram, nossos chefes erram, nossos amores erram... E nós também erramos. Eu lhe perdoo não porque eu acho certo o que você fez, mas porque eu admito que também erro e nesses casos preciso do seu perdão. Eu lhe perdoo porque isso me deixa mais leve. Eu lhe perdoo até mesmo sem você merecer, mas nesses casos eu perdoo por mim e não por você. Eu perdoo sua grosseria, suas mudanças repentinas de humor, sua falta de atenção para comigo. Eu perdoo sua ausência, sua impaciência e sua imperfeição. E quer saber? Eu também me perdoo. Me perdoo pelas vezes que agi sem pensar. Me perdoo pelas minhas grosserias. Me perdoo pela minha instabilidade. Me perdoo por saber que um erro não muda meu caráter. Me perdoo porque preciso do meu perdão e do seu perdão pra me sentir em paz. Padre Fábio de Melo nos diz que o caderno é uma metáfora da vida... Quando os erros são demais, vire a página. E recomece. E assim descobrimos que erros não precisam ser fontes de castigo, erros podem ser fonte de virtudes. "Nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida". E você? Quantas páginas precisa virar na vida para que se sinta capaz de recomeçar sem culpas?
O que significa fazer aniversário? O que significa deixar de ter 27 anos e passar a ter 28? Significa virar uma página desse misterioso livro chamado vida. Mas antes de virar eu olho pra essa página que está prestes a se encerrar e contemplo tudo que vivi e aprendi com ela. Essa foi uma página vivida com muita intensidade, com muita alegria e também com muito aprendizado. Ano cheio de conquistas e ano cheio de mudanças. Viajar, morar sozinha, mudar de função, sair de um emprego, mudar o rumo da carreira, conhecer pessoas novas, frequentar lugares diferentes, enfim, mudar o jeito de olhar pra vida. Se eu tivesse a oportunidade de escrever novamente a página dos meus 27 anos escreveria exatamente igual, com todos os sabores e os dissabores que tive nesses 365 dias. Escreveria igual porque foi um ano especial... Conheci pessoas maravilhosas, fiz muitos amigos, conheci lugares incríveis, experimentei novos sabores, tomei decisões muito importantes, fechei ciclos significativos, enfim, amadureci. Foi a página da minha vida que posso dizer que foi inteira escrita por mim... Escrita com meus sonhos, com meus medos, com minha capacidade, com meus limites e com as minhas possibilidades. Página essa que eu decidi que teria as minhas cores, os meus rabiscos e as minhas paisagens. Agradeço a todos que enfeitaram as minhas linhas durante esse tempo e que fizeram dessa página uma das mais lindas desse meu livro. Nessa página só entrou quem eu queria e só foi embora quem eu permitisse que fosse. Nessa página só teve espaço para as coisas do bem. Nessa página não teve ódio, não teve rancor e muito menos mágoa. Nessa página teve muitos sonhos realizados e muitas alegrias vividas. E agora chegou a hora de virá-la. Viro com a certeza que essa página branquinha será ainda mais bonita que essa que já está toda escrita, colorida e preenchida por tudo que faz parte do meu mundo. Viro com a certeza que na página dos 28 só terá espaço para aquilo que acrescenta, que soma, que faz crescer... Página virada e uma página novinha... Página em branco... E com isso, muitos planos, muitos sonhos e muita vontade de escrever a página mais linda da minha vida.
Quem tem mais de 20 anos deve lembrar de um desenho fofo que se chamava
"ursinhos carinhosos". Lembro que na época eu não compreendia o
porquê da existência do Coração Gelado e ficava muito braba quando ele
aparecia... Hoje eu lhe entendo coração gelado. Sei que você não gelou sem
motivos. Minha explicação é simples, nascemos ursinhos carinhosos, até que nos
metemos em relacionamentos que nos fizeram sair muito machucados... Eis que
nosso medo congelou nosso coração e de lá em diante
evitamos qualquer situação que aqueça e ameace derreter a geleira. Bradamos em
alto e bom tom que não precisamos de ninguém e que a regra é não se apegar.
Conhecemos novas pessoas mas não nos permitimos deixar que as coisas fluam, ao
primeiro sinal de aquecimento, inventamos uma desculpa barata e zap, pulamos
fora da nuvem. E assim seguimos negando a nossa essência de ursinhos carinhosos.
Não sabemos mais simplesmente deixar as coisas acontecerem, agimos de forma
fria e mecânica com medo de que qualquer passo em falso possa derreter a
geleira. Evitamos o sofrimento claro, mas, por consequência, perdemos também o
frio na barriga, a ansiedade pelo próximo encontro, as mãos dadas no cinema e o
calor da companhia do outro. Corações gelados estão soltos por aí, vestem calça
jeans, saem pra balada, bebem cerveja, tem pós-graduações, tem um emprego fixo,
já viajaram pelo mundo... Corações gelados vão ao mercado num domingo chuvoso,
sozinhos é claro, e olham com certa descrença para os ursinhos carinhosos que
estão na fila a sua frente... Corações gelados também choram vendo um programa
qualquer na TV... Corações gelados se escondem por trás de uma mesa cheia de
papéis e pendências pra resolver... Corações gelados não necessariamente são
frios, às vezes eles só não foram aquecidos do jeito certo. Pode ser que um dia
a geleira derreta... Com paciência e carinho. Mas vá com calma, corações gelados
morrem de medo de ficarem vulneráveis com o derretimento da geleira, e nessa
hora tudo que eles precisam é de um abraço e um sorriso que diga: calma, vamos
cuidar disso juntos. Ursinhos carinhosos e corações gelados estão toda hora se
esbarrando. Não tenha medo se encontrar um coração gelado por ai, lembre-se que
ele só precisa de um colo bem quentinho e de alguém que compreenda seus medos,
mas que acima de tudo, respeite o seu tempo de descongelamento.
"Só quem já provou a dor, quem sofreu, se amargurou... Viu a cruz e a vida em tons reais. Quem no certo procurou, mas no errado se perdeu, precisou saber recomeçar. Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar, porque encontrou na derrota algum motivo para lutar. E assim viu no outono a primavera, descobriu que é no conflito que a vida faz crescer..." Padre Fábio de Melo nos fala de contrários e sobretudo nos mostra que a sombra realmente só existe quando brilha alguma luz. Bonito aprendizado acontece também nos momentos de sofrimento. A dor tem poder transformador, ela nos reconecta a nossa essência, ela tira o nosso foco da superfície e nos faz enxergar além. Quem já passou por momentos de deserto sabe a importância que tem o choro descontrolado, o coração apertado e a sensação de vazio. Além disso, a dor tem o incrível poder de nos lembrar da nossa condição humana, da nossa condição de seres finitos. Somos tão pequenos, somos tão egoístas... E esquecemos que somos tão frágeis. Esquecemos que nossa vida é passageira e que não temos nenhum controle sobre o nosso tempo de permanência nesse trem. Então, que pelo menos saibamos aproveitar essa nossa curta trajetória. Chegamos sem nada e sairemos sem nada. Mas eu arrisco dizer que levaremos sim. Levaremos o amor que cultivamos, levaremos o bem que fizemos a alguém, levaremos os sorrisos que despertamos nas pessoas ao nosso redor, levaremos a paz que nossas palavras ja proporcionaram... Está mais do que na hora de pararmos de perder tempo com mesquinharias e sentimentos que em nada agregam na nossa vida. Cada vez que deixamos que sentimentos como o ódio e o rancor ocupem espaço em nosso coração estamos abdicando desse espaço que poderia ser preenchido com amor. Cada vez que levantamos a voz para caluniar ou levantar falso testemunho estamos perdendo um tempo precioso que poderia estar sendo gasto com palavras de esperança e carinho para com alguém. E assim a vida vai passando... E assim os nossos dias vão escorrendo quer queiramos ou não. E ai? O que temos feito dos nossos dias? O que temos cultivado em nossos corações? Que pessoas temos permitido que entrem na nossa vida? O que estamos transmitindo ao mundo? Hoje, convido você a fazer uma breve reflexão e a pensar sobre como tem sido a sua estadia nesse vagão... Como as pessoas tem saído e entrado da sua vida? Sejamos leves, afinal, somos breves. Que as pessoas saiam da nossa vida melhor do que entraram. Que nossas palavras sejam apenas para construir, edificar. Que os nossos sentimentos nos movam sempre na direção do bem. Que o mal não tenha espaço na nossa vida. E por fim, que o amor seja sempre a força que nos faz acordar todos os dias com vontade de ser alguém melhor, para nós e para os outros.
"Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. (..) A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre. Mas chegava a hora da tristeza. — Tenho de ir — dizia. — Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho… — Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar." (Rubem Alves) Rubem Alves entendia das sutilezas da vida, Rubem Alves entendia de alegria do reencontro. Amamos as histórias do pássaro encantado... Mas como é difícil lidar com os seus vôos! Deixar que o outro voe é dar-lhe a possibilidade de ir quando e pra onde quiser... Deixar que o outro voe é saber lidar com a nossa insegurança por pensar que pode ser que ele não volte. Mas é preciso deixar voar. Pássaros aprisionados não cantam bonito, pássaros aprisionados não tem histórias pra contar. Assim somos nós em nossas vidas e principalmente em nossos relacionamentos. Temos medo da separação e comumente não sabemos lidar com o tempo do outro. Atropelamos, passamos por cima e ansiosos por respostas, forçamos situações antes do tempo. Aquecer um casulo esperando que ele se transforme em borboleta antes do tempo é, além de inútil, fatal. E quantas vezes, movidos pela nossa ansiedade, ficamos ali querendo ver logo o vôo da borboleta. A velocidade da internet nos trouxe a possibilidade de comunicação rápida e imediata, mas fico me questionando até que ponto estamos sabendo lidar com isso. Esperamos que o outro esteja disponível 24h por dia e ai dele se estiver online e não nos responder. Saber esperar e respeitar o tempo do outro é um exercício diário que todos nós deveríamos praticar. Parei pra refletir sobre às vezes que respondi imediatamente alguém e estava totalmente sem vontade. E também sobre as vezes que li a conversa e decidi responder outra hora com mais calma. Das duas opções, na segunda foi sempre a que respondi e refleti de verdade. Bonito é quando o outro nos olha demorado. Bonito é quando o outro nos escuta demorado. E isso só é possível quando respeitamos o tempo e o espaço do outro. Vamos viver a nossa própria vida, vamos construir os nossos próprios sonhos e vamos permitir que o outro venha quando e se quiser. E assim, quando ele vier, virá com as penas coloridas, virá com a alegria dos lugares pelos quais passou, e sobretudo, virá porque sentiu saudade. "Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…Ah! Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama… E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….” E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro."
P.S.: Para esclarecer: O que está escrito entre aspas são palavras de Rubem Alves, neste caso, o início e o final do texto.
Diz a sabedoria popular que a última pessoa que a gente pensa antes de dormir é a pessoa mais importante da nossa vida... Ou a situação mais importante naquele momento. E você? Pensa no que ou em quem antes de dormir? É quando as luzes se apagam, quando o silêncio paira que nosso coração se abre para aquilo que há de mais puro na nossa vida. Nessa hora lembramos de pessoas queridas, de pessoas presentes ou talvez nem tanto, de pessoas que precisam da nossa ajuda e que as vezes não se deixam ser ajudadas... Lembramos das palavras que não foram ditas, dos abraços que não foram dados, das emoções que foram contidas e das lágrimas que não permitimos que fossem vertidas. Bom é quando a gente lembra dos abraços apertados que ganhamos, dos sorrisos que despertamos, dos planos que concretizamos e das pessoas que nos fizeram mais feliz naquele dia. É no apagar das luzes que a nossa essência vem à tona... Quando não tem holofotes, nem público e muito menos expectadores. Ali podemos ser quem realmente somos... Ali podemos deixar que a nossa fragilidade ganhe espaço já que ser frágil hoje em dia é piegas. Ali podemos ter medo até de nós mesmos, sem que ninguém saiba. Sozinhos em nossos quartos não há espaço para teatro, fingimento ou dureza. Somos nós! Com nossas fraquezas, nossos medos, nossas lágrimas incontidas, nosso desejo de mudar o mundo e ao mesmo tempo nosso desejo que tudo permaneça como está. É no apagar das luzes que nós pensamos e sentimos coisas que ninguém acessa. Já que está tão difícil ser autêntico, que sejamos pelo menos antes de dormir, que sejamos pelo menos autênticos para nós mesmos. É saudável que você realmente deixe suas emoções fluírem, é saudável que você dispa sua máscara que você já usou o dia inteiro e vista o seu verdadeiro eu. Ninguém, além do seu travesseiro, saberá o que você fez ou pensou antes de dormir, então aproveite! Chore, lamente, dê risada, fale sozinho, sonhe, cante, dance, pule... Enfim, seja tudo que você gostaria de ser, acima e apesar do que os outros pensam!
Quantas vezes a gente diz ou ouve dizer que está com vontade de sumir...
Sumir pra que? Sumir de quem? Sumir pra onde? A teoria da evolução nos ensina
que frente a uma situação de perigo ou a gente luta ou a gente foge... Tem dias
que não dá vontade de lutar mesmo e a decisão mais fácil é fugir... Fugimos
quando estamos com medo, fugimos quando estamos cansados, fugimos quando bate
aquela insegurança, fugimos quando avistamos perigo próximo. E por que não
lutamos? Porque perdemos a vontade, porque não há
motivos convincentes ou simplesmente porque não. Em tempos de conexão em tempo
real, sumir é quase missão impossível. Mas tem horas que é necessário o
"desligar-se de tudo", desconectar. Celular desligado carrega mais
rápido não? Então... As vezes para recuperar nossas energias é preciso mesmo
desligar um pouco. E cada um encontra a sua forma de fazer isso... Viajando,
correndo, nadando, meditando, cantando no chuveiro, trancado no quarto
escuro... Nosso ritmo frenético nos leva a desconexão de nós mesmos, nos leva a
ação sem reflexão. Não, você não precisa viver com o celular 24h ligado, você
não precisa responder seus e-mails no mesmo dia, você não precisa curtir as
fotos dos seus amigos toda hora, você não precisa saber o que acontece no mundo
o tempo inteiro. E sabe o que acontece quando você não desliga nunca? Seu corpo
grita! Sabe como? Adoecendo. Ai vem as rinites, amigdalites, artrites,
escolioses, úlceras, enxaquecas, dores de cabeça e por aí segue a lista. Preste
atenção no seu corpo, preste atenção aos seus sinais. Uma dor, uma alteração,
uma inflamação, uma febre... Tudo isso é sinal que algo não está bem, que seu
corpo está necessitando de atenção. O problema é que esses sinais são calados
com paracetamol, dorflex, fluoxetina, omeprazol, diazepan... E o seu corpo
segue pedindo socorro, mas você prefere se entupir de remédios e fingir que
nada está acontecendo. Até que um dia, no ápice do seu cansaço, quando remédio
nenhum faz mais efeito, você para e finalmente resolve dar ouvidos ao sinais
que seu corpo enviou. Espero, de coração, que ainda haja tempo pra isso. Espero
que o seu corpo não tenha cansado de lhe enviar sinais. Se você está lendo
isso, é porque ainda dá tempo... Portanto, cuide-se. Cuide do seu exterior, mas
principalmente do seu interior. Você é a única pessoa que pode fazer isso por
você mesmo!
"Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor, mas tem opinião formada sobre bem poucas coisas. Aprendiz na arte de encerrar ciclos e de se abrir para novas experiências. Acredita em Deus e nas pessoas. Gosta muito do mar, de sol, da família, dos amigos. Corre, malha, faz trilha, come e bebe quando tem vontade. Sensível e durona, teimosa e manhosa: HUMANA.