Há quem colecione sapatos, antiguidades, selos, jóias, cifras na conta bancária. Há quem acumule imóveis, ações na bolsa, roupas nas prateleiras. Há quem não suporte a ideia de dormir longe da sua cama, de estar num lugar que não sabe a lingua, de conversar com desconhecidos. Mas há quem não queira colecionar coisas, quem não se importe em dormir num quarto com mais dez desconhecidos, quem não queira criar raízes... Sinceramente? Fico com o segundo grupo. Já guardei e juntei muitas coisas, já me importei se o sapato estava combinando com o cinto, já deixei de conhecer pessoas pelo medo do desconhecido... Mas, depois que eu descobri que o mundo é muito maior que os metros quadrados do meu quarto, ah, muitas coisas mudaram. Hoje eu troco o conforto da minha cama por pés na areia e banho de mar. Troco a coleção de sapatos por vento batendo no rosto no final da tarde. Troco as cifras na conta pelo sol se pondo no mar. Prefiro conversar com um desconhecido e saber das suas histórias do que assistir um filme. E com tudo isso eu aprendi a valorizar as coisas mais simples, os momentos mais fugazes, as histórias que não se repetem. Aprendi a contemplar a natureza, a ver sol nascendo, a sentir a brisa, a apreciar o voo de uma gaivota, a olhar pro céu. E descobri que o que há de mais lindo na vida são as coisas mais simples, são as coisas que dinheiro não compra. E é isso que eu quero que não se perca: a capacidade de me encantar com a simplicidade daquilo que me rodeia. E foi viajando que eu aprendi isso, e é viajando que eu consigo me livrar dos sapatos, deixar o cabelo desarrumado, o rosto sem maquiagem, os ouvidos sem preconceitos... É viajando que eu me reconecto ao que eu sou, a minha essência, aquilo que eu acredito. Hoje volto ao trabalho, a rotina, a dieta... Mas o que eu vivi não se perdeu, o que eu senti ainda está aqui, o que eu aprendi não foi em vão. E que bom que eu posso voar, conhecer o mundo, apreciar a natureza, conhecer pessoas, descobrir um novo jeito de viver, me encontrar com a minha essência, me emocionar com o céu estrelado. Cumprirei horários, me adequarei a regras, calçarei sapatos, passarei despercebida pela rua, serei uma cidadã comum... Mas o que eu sou, o que eu vivi, a minha essência... Isso nao vai se perder.
- 06:06:00
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