Uma hora a gente cansa

09:16:00

Porque a gente insiste, insiste, mas chega uma hora que a gente cansa. Cansa das respostas vazias, cansa das mentiras, cansa dos silêncios na hora errada, cansa das desculpas em cima da hora.  E cansa de brincar de gato e rato, de ter que simular desinteresse, de mascarar o que está sentindo de verdade ou de nem chegar a sentir nada pelo trauma das experiências anteriores. Por fim, parece que estamos vivendo num eterno faz-de-conta. Você faz de conta que está falando a verdade, eu faço de conta que acredito, e no fim, a gente faz de conta que se relaciona. E o pior é que nesse faz de contas não há finais felizes, aliás, não há nem finais, porque nem existem começos. E parece que as relações estão ganhando uma conotação ganha-perde onde ganha quem demonstra menos interesse, quem se apega menos, quem não se envolve... E perde quem se apega, quem sente, quem se relaciona de verdade. Uma pena porque é uma lógica que distorce o sentido real das relações. Resultado disso é que não sabemos mais nos relacionar. Não permitimos que o outro se mostre, aliás, nem há tempo para que esse outro se mostre. Relações que duram algumas linhas no whatsApp, um encontro desmarcado e remarcado várias vezes, beijos apressados num balcão de um bar, conversas que nunca mais tiveram continuidade. Encontros que não foram encontros, porque faltou reciprocidade, faltou coragem, faltou verdade, faltou entrega. Quem é esse outro? Quais os seus anseios? Quais as suas marcas? Quais as suas expectativas? Não sabemos, aliás, sabemos muito pouco, quase nada. E parece que não há interesse real no outro, há apenas a satisfação momentânea de desejos e vontades que o outro, por vezes, desconhece. É a necessidade de auto-afirmação, de bajulação, de engrandecimento do ego. Não é relação pura e simplesmente pelo prazer da companhia, pela vontade de dividir os dias e os sonhos com alguém, pela curiosidade de saber como esse outro é. Não há troca, não há encontro e tão pouco relação. Já diria Fritz Perls, em um trecho que ficou conhecido como a "oração da Gestalt", que "Eu não estou nesse mundo para satisfazer as suas necessidades, assim como você não está para satisfazer as minhas", sendo assim, a lógica de se relacionar não pode ser baseada única e exclusivamente na satisfação das nossas próprias necessidades. Precisamos aprender a nos relacionar pelo prazer da companhia do outro, pela possibilidade de trocas que se estabelece numa relação, pela curiosidade de conhecer e estar com alguém diferente de nós. Se você quer algo apenas para satisfazer as suas necessidades, compre objetos, mas não use pessoas. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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