Ainda sabemos nos relacionar?

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Você sai com os seus amigos pra um bar e entre um chopp e outro, uma risada e outra, a conversa é interrompida por um snap aqui, uma foto ali, uma resposta no whatsapp ou uma checada no facebook. Dificilmente há uma mesa sequer que pelo menos uma das pessoas não esteja mexendo no celular. Você vai pra balada e encontra uma multidão que está mais preocupada em fazer um vídeo do show do que assisti-lo, que está mais interessada em conversar com quem está online do que com quem está ali, na sua frente, que escolhe uma bebida não pelo sabor, mas pelo quão fotogênica ela é. Você conhece alguém e ficam dias e dias conversando por um aplicativo e quando surge a oportunidade de uma conversa cara a cara, geralmente ela é cancelada ou adiada com as desculpas mais esfarrapadas possíveis. O que poderia ser um facilitador das relações, tem se tornado um substituto, ou seja, temos trocado as relações reais por relações superficiais mediadas por uma tecnologia. No mundo virtual tudo acontece, todos sorriem, todos viajam, todos comem comidas maravilhosas, todos bebem os melhores drinks, todos estão rodeados de amigos, todos são vitoriosos. Triste é constatar que entre virtual e real há um abismo cada vez maior. O número de pessoas com grau elevado de ansiedade tem crescido assustadoramente, o número de pessoas que buscam nas substâncias químicas uma bengala emocional só aumenta, o número de casos de suicídio também não tem diminuído. Solidão, ansiedade, depressão, transtornos psicológicos, descontrole emocional, isso não aparece na nossa timeline, mas aparece todos os dias nos nossos consultórios, aparece todos os dias nas conversas com amigos mais íntimos, aparece quando nos desligamos da virtualidade e passamos a olhar ao nosso redor. Existe muito sofrimento real do qual ninguém fala, ninguém fotografa, ninguém publica. E mesmo com todos os avanços tecnológicos, nenhum emoticon substitui um abraço, nenhum kkkkk substitui o som de uma risada, nenhuma palavra digitada substitui uma voz que fala ao pé do ouvido, nenhuma imagem substitui um cafuné, nenhum olhinho de coração substitui um eu te amo dito com os olhos. Bata fotos, curta, compartilhe, passe horas no whatsapp, siga no twitter, veja a timeline, mas não deixe de abraçar, beijar, ouvir, acariciar, conversar olhando nos olhos... Afinal, os melhores encontros acontecem ao vivo, com cores, sabores, cheiros, texturas e afeto. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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