Eu já...

13:05:00

Já sonhei acordada, já acordei chorando, já implorei pra que fosse somente um sonho, já tive medo do escuro e dos barulhos estranhos. Já me senti a pior pessoa do mundo, já carreguei culpas desnecessárias. Já sorri tendo vontade de chorar, já chorei tendo vontade de sumir. Já me arrependi das decisões que eu tomei e das que eu posterguei. Já quis largar tudo e sair pelo mundo viajando, já quis não sair do meu quarto por dias seguidos. Falei sem parar por medo do silêncio das palavras não ditas. Implorei pelo amor de alguém, implorei por dias melhores, implorei pelo fim daquela dor intermitente e insistente. Senti ciúmes, resmunguei, me calei, falei, silenciei. Quis acabar com todas as dores do mundo e por vezes achei que poderia resolvê-las. Me emocionei com filmes da sessão da tarde mas fui incapaz de me sensibilizar com a dor de quem estava bem ao meu lado. Cometi enganos, julguei sem conhecer, desisti sem tentar. Falei que não ia conseguir, por medo não arrisquei, por insegurança me paralisei. Ensaiei diálogos que nunca existiram, escrevi histórias que nunca tiveram protagonista nem coadjuvantes, imaginei finais felizes que não saíram nem dos começos. Quis que o tempo parasse, que os dias não passassem e que aquela sintonia nunca acabasse. Sofri mais antes do que durante, imaginei dores e amores que nunca existiram. Tive histórias mal resolvidas, páginas escritas até a metade, textos que nunca sairão do rascunho. Ocupei todo meu tempo na vã tentativa de preencher outros vazios. Fugi quando deveria ter lutado, lutei quando deveria ter desistido. Tive medo de perder as pessoas que eu amo, tive medo de não amar e perdê-las. Dirigi sem saber pra onde estava indo, aceitei sem saber o que me esperava. Imaginei castelos e príncipes, quis ter a vida estampada na revista Caras, quis que as pessoas soubessem quem eu era. Já me escondi atrás de um sorriso amarelo, já cantei pra não chorar, já bebi pra esquecer, já dormi pra não lembrar. Já vi meu castelo desabar, achei que não conseguiria levantar, já vi outro se reerguer, já vislumbrei novos começos para escrever. Menti pra não magoar, magoei pra não mentir, fugi pra não sentir. Fiz vôos longos e demorados, senti saudade de casa, voltei, parti, voei. Quis voltar no passado, quis pular para o futuro, quis não lidar com a realidade do presente. Mascarei sentimentos, escondi minha raiva, subjuguei minha capacidade de amar. Fui sensata e fui louca, agi friamente e outras irracionalmente. Engoli em seco, guardei tudo pra mim, explodi na hora errada. Fui grossa, imatura, medrosa, insensível. Fui delicada, cuidadosa, amorosa, preocupada. Fui e continuarei sendo: HUMANA. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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