Aos que tem excesso de compreensão

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Sim, você é sempre muito compreensivo com todos ao seu redor. Sempre entende, sempre perdoa, sempre se coloca no lugar do outro. É sempre o primeiro a chegar quando algum amigo precisa de ajuda, é sempre o que ouve as histórias de todo mundo, é sempre o que está disponível a qualquer momento. É louvável e admirável que você seja assim, mas por favor, não dá pra ser sempre desse jeito. Você não precisa entender, compreender e aceitar tudo que os outros lhe fizerem. Tem horas que não dá pra passar a mão na cabeça, tem horas que não dá pra fingir que nada aconteceu, tem horas que o que é nosso também precisa de espaço. Espaço pras nossas mágoas, pros nossos desapontamentos, pras nossas decepções. Espaço pra dizer pro outro que não foi legal o que ele fez, que esperávamos uma outra forma, que estamos tristes e feridos com o que isso gerou em nós. Claro que decepção só existe quando de certa forma cria-se uma expectativa em relação a algo, mas, a não ser que você não esteja em bom uso das suas faculdades mentais, quem cria expectativa sem que o outro dê pelo menos alguns sinais? Tirando os amores platônicos que povoaram nossa adolescência, não se constrói expectativa onde não existe nada. Eu sei que você gosta de agradar a todos e tem medo de desapontar as pessoas, mas vem cá, me diz quantas vezes você já passou por cima de si pra agradar a alguém? Me diz até quando agradar o outro vai vir antes de agradar a si próprio? Relaxe meu amigo, você não precisa ser compreensivo sempre, não precisa ser o melhor amigo sempre, não precisa ser coerente sempre. E acima de tudo, não precisa entender o outro sempre. Vale reclamar, xingar, brigar, chorar, fechar a cara, vale demonstrar o que você está sentindo de fato. Seja tolerante com os demais, mas por favor, não esqueça de ser tolerante também consigo próprio. Aceite os seus erros tão bem quanto você aceita o erro de todos ao seu redor. Aceite o que você está sentindo assim como você compreende o sentimento dos outros. Diga que não entendeu, diga que se magoou, diga que doeu, diga que se decepcionou. O outro também precisa saber o que o comportamento dele provoca em você, afinal, se você não fala, não adianta esperar que o outro adivinhe. E se ele não gostar? Paciência, no mínimo, ele precisa saber que lhe desagradou. Isso não é egoísmo, não é pensar só em si, isso é apenas enxergar-se, é apenas compreender o seu próprio processo. O nome disso é convivência, o nome disso é respeito com os seus próprios sentimentos, o nome disso é amor-próprio. O nome disso é aprender a viver COM o outro, e não PARA o outro e nem PELO outro. Somos seres únicos, dotados de vontades, medos, inseguranças, potencialidades... Ninguém pensa como você, ninguém sente o que você sente, ninguém vive ai na sua pele, portanto, o único capaz de conhecer os seus próprios limites é você mesmo, o único capaz de saber como o outro lhe impacta é você mesmo e o único que pode sinalizar isso só pode ser você também. Respeite o outro, cuide do outro, compreenda o outro... Se for possível. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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