O que nós não sabemos sobre o outro

05:47:00

Você sabe o meu nome, sabe a cor dos meus cabelos, sabe o carro que eu ando, sabe o tom da minha voz, sabe a minha profissão, sabe o cargo que eu ocupo. Você pode até saber onde eu moro, quais são os meus hobbies e o que eu costumo fazer no final de semana... Pode conhecer minha família, saber em que universidade eu estudei, saber o que eu gosto de comer. Mas você certamente não sabe que ontem eu sofri por antecipação e fui dormir com vontade de chorar, mesmo não tendo chorado. Não sabe que quando eu me calo é quando eu tenho mais coisas pra falar. Não sabe que eu tenho uma necessidade absurda de controlar tudo a minha volta e que qualquer coisa que foge ao meu controle já me deixa muito ansiosa. Não sabe que eu tenho dificuldade de acessar meus sentimentos e que costumo me fechar numa concha ao primeiro sinal que alguém se aproxima. E não sabe que eu me tranco no meu quarto e durmo quando eu sinto que o mundo está desabando e eu não sei o que fazer... O que você conhece de mim afinal? O meu lado de fora. Portanto, o que nós conhecemos dos outros é apenas a aparência, o evidente, o que está óbvio. Pouco sabemos dos seus medos, das suas angústias, do que lhe aperta o coração, do que faz jorrar lágrimas de tristeza ou emoção. O outro será sempre um desconhecido para nós, e isso não significa que precisemos desvendá-lo, o que podemos e devemos é apenas respeitá-lo. Eu não sei das suas dores, mal conheço a sua história, não sei por quais caminhos você percorreu, não sei em quais se perdeu. Não sei quem marcou a sua vida, não sei quem partiu sem avisar, não sei qual foi sua maior conquista. Então, antes de julgar, condenar, apunhalar, lembre-se que esse outro é uma pessoa diferente de você, que passou por vivências distintas, que teve uma família diferente, que andou por caminhos que não foram os seus e que portanto, está agindo de forma diferente da que você agiria. Ah meu amigo, o mundo já está cheio de juízes, intolerantes, algozes, donos da verdade... Não seja mais um. Aceite, acolha, compreenda, mas não julgue. Não estamos aqui para julgar, condenar, corrigir os outros, estamos para viver, para nos relacionar, para aprendermos com as diferenças. Bonito mesmo é quando alguém nos olha nos olhos e diz: eu conheço muito pouco de você e da sua história, mas eu aceito fazer parte dela, eu aceito as nossas diferenças e mesmo que eu não as compreenda, eu não as julgo. Seria mais simples a nossa convivência se na relação com o outro nós não quiséssemos ditar as nossas verdades, se não quiséssemos exigir do outro comportamento semelhante ao nosso. Meu caro, se você quer se relacionar com alguém igual a você, relacione-se com um espelho, caso contrário, aprenda a lidar e a aceitar as diferenças. É difícil né? Mas é possível. Basta que haja disponibilidade, respeito, compreensão. Aprender a lidar com as diferenças é um caminho longo e até pedregoso, mas é a única forma possível de estabelecer relação com os demais, fora isso, temos a opção de nos isolarmos apenas. E que as diferenças sejam pra enriquecer as nossas relações e não para bloqueá-las. Quer ser respeitado? Acolhido? Compreendido? Comece respeitando, acolhendo, compreendendo. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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