De que conexão estamos falando mesmo?

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Estamos conectados a uma rede infindável de pessoas, temos acesso fácil a informação de qualquer tipo, somos seres multi tarefas (e multi atarefados por sinal), e em meio a isso tudo, debruçados sobre nossos próprios umbigos, pouco temos parado para contemplar e enxergar o mundo ao nosso redor, as pessoas ao nosso redor. É o MEU trabalho, os MEUS problemas, a MINHA empresa, o MEU carro, o MEU bíceps, o MEU mundo. E assim os outros passam por nós, e nós passamos pelos outros: invisíveis. E assim o sol nasce e se põe, as flores desabrocham e murcham, as estações vem e vão... E nós assistimos a tudo isso, sem estar ali. A foto se tornou mais importante que a contemplação, a performance tomou o lugar das belezas do caminho, o EU se sobrepôs a todo o resto. Temos três mil amigos no facebook mas choramos em frente ao espelho, sozinhos. Colecionamos contatos no whatsapp mas não temos uma relação sequer que ultrapasse a barreira das 5 polegadas. Temos um discurso impecável nas redes sociais mas não sabemos sentir, minimamente, nem falar de sentimentos temos conseguido. Sabemos sobre astronomia, geografia, economia... Sabemos muito pouco, ou nada, sobre empatia. Gostamos e estamos sempre rodeados de pessoas, mas não queremos saber dos seus fracassos. Fale sobre os seus troféus, sobre seus pódios, sobre suas conquistas e seu sucesso, mas não venha me falar das suas fraquezas. Não demonstre cansaço, não diga que perdeu as forças, não me fale da sua tristeza. Afinal, estamos mesmo nos relacionando? Ou brincando de gato e rato, num jogo onde quem menos sente é quem mais ganha? E cadê a nossa essência? Cadê o nosso lado humano que chora, sofre, se decepciona, se cansa, fracassa? Nascemos para o sucesso? Depende, depende. Nascemos para viver, para sentir, para chorar, para sorrir, para buscar, para desistir, para encontrar, para perder. Não precisamos ganhar sempre, definitivamente não. Não precisamos ocupar o melhor cargo da melhor empresa da cidade, não precisamos morar numa mansão, não precisamos ser aluno nota 10, não precisamos ser incansáveis. O que nós precisamos é não esquecer que somos todos seres humanos... Cansados, estressados, ansiosos, deprimidos, dopados. E a correria tem sido tanta que ainda ontem eu senti saudade de mim. Saudade de acordar sem despertador, de deitar no colo de um amigo e chorar, de não ficar ansiosa esperando uma mensagem no celular, de querer apenas contemplar sem tirar fotos, de escutar um relato sincero de algo que não deu certo, de chorar até deixar o travesseiro molhado. E no fim, descobri que sucesso mesmo é a gente poder ser quem é, aceitando as nossas limitações, os nossos medos, nossos fracassos, tão bem quanto aceitamos as nossas vitórias. E sucesso é também se relacionar com o outro, assim, de verdade, sem pré-conceitos ou pré-julgamentos, sem esperar que o outro seja sempre infalível, imbatível e incansável. Porque no fim, o que a gente precisa não é de 100 curtidas, de uma promoção no trabalho, de um carro 0km... É de um abraço, de um colo, de um olhar acolhedor, de silêncio. É de mais relações presenciais, é de mais sinceridade e respeito, é de mais humanidade. E esse outro que pode nos oferecer isso é também um ser humano que cansa, falha, se esgota, perde a paciência. Computadores, tablets, celulares, carros, máquinas, esses não falham, mas também não ouvem, não acariciam, não abraçam, não dão colo. A escolha é nossa, as consequências também. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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