Correrias e vidas vazias

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Ansiamos pelo fim do expediente, ansiamos pela sexta-feira, ansiamos pelas férias, ansiamos pela aposentadoria. Queremos que chegue logo o verão, queremos que chegue logo aquela viagem, queremos que aquele tratamento termine logo. Entramos na faculdade e já sonhamos com a formatura, pisamos o pé no cinema e já queremos saber o final do filme, damos o primeiro passo e já queremos terminar logo a corrida. E o durante? E o trajeto? E o outono? E a quinta-feira? E as mãos dadas no cinema? E o aqui-e-agora? Ansiamos pelo amanhã, pela vitória, pela linha de chegada, pela conclusão, pelo término e nos esquecemos que pode ser que a gente nem chegue no amanhã, nem esteja vivo no verão, nem conclua aquele curso, nem chegue a se aposentar. E o hoje está passando quase que despercebido, levando embora todas as oportunidades que só são possíveis de serem vividas no momento presente. E a gente vai perdendo a oportunidade de conhecer novas pessoas, de apreciar paisagens diferentes, de aprender um novo jeito de fazer a mesma coisa, de sentir novas e distintas emoções. Nesse meio tempo, em que estamos ocupados demais com o amanhã, nossos pais estão envelhecendo, os filhos estão crescendo, alguns amigos estão partindo, nossa saúde está sendo prejudicada... E o pior de tudo é que a gente nem percebe. Nosso pensamento acelerado, nossas pernas inquietas, nossos sinais claro de ansiedade... Típicos de uma geração que não sabe sossegar. Típico de quem foi ensinado que o mais importante na vida é vencer, é chegar lá. Mas, afinal, onde é mesmo que queremos chegar? E depois de chegarmos, o que teremos a buscar ainda? Ou a gente se acalma, respira e aprende a apreciar o trajeto ou corremos o risco de apenas passarmos por essa vida, sobrevivendo, não vivendo. Não precisamos ter as 24 horas do nosso dia super preenchidas, não precisamos ter uma agenda sem espaço para o descanso, não precisamos ter um milhão de metas a serem cumpridas. Agendas cheias em geral apontam para vidas vazias. Vidas vazias de significado, de relações, de sentimentos, de lazer, de calma, de alma. Agendas cheias e o vazio de quem não consegue dormir sem ingerir pelo menos dois comprimidos. Agendas cheias e o vazio de quem não estabelece relações, apenas mantém contatos rápidos e superficiais. Agendas cheias e a sensação de impotência frente a uma doença que chega sem pedir licença. E ai, quando a gente se depara com a fragilidade e sutilidade da vida, finalmente nos damos conta que agendas cheias não preenchem corações... Que imploram por mais calma, por mais paciência, por mais cuidado, por mais amor. Lembremo-nos: contatos não substituem relações, colegas de trabalho não substituem amigos, agenda cheia não preenche vida vazia.

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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