Quando tudo pede um pouco mais de calma

08:15:00




         Seu chefe quer o relatório pra ontem, seu médico quer os exames pra agora, seu cliente quer o projeto pra essa semana. Estamos todos com pressa. A semana mal começa e já ansiamos pela sexta-feira, passamos no vestibular e já imaginamos o dia que subiremos ao palco para receber nosso diploma, conhecemos alguém e já prevemos o dia que em frente ao altar diremos e ouviremos o Sim, começamos num trabalho novo e já estamos programando as férias, abrimos o livro e já queremos adivinhar o final. Todos os dias alguém morre no trânsito porque teve pressa pra chegar a algum lugar. Todos os dias nasce uma criança prematura por insistência dos pais em antecipar uma cesárea. Todos os dias alguém entrega um projeto "meia-boca" porque estava no prazo pra entregar.                         Agendas, relógios, calendários, temos vivido a ditadura da pressa, do "pra ontem", do imediatismo. Nosso dia continua tendo 24 horas, como o dos nossos avós tinha, mas a impressão que fica é que falta espaço pra tudo que precisamos fazer entre um por-do-sol e outro. Concluir uma tarefa é gratificante, alcançar o topo do organograma é satisfatório, terminar um curso é muito bom... Mas o que temos feito nesses intervalos? Enquanto o curso não termina, enquanto ainda não atingimos o topo, enquanto nossos filhos ainda não nasceram, enquanto ainda não chegamos ao destino final?
           Não é por acaso que uma gestação dura nove meses, não é por acaso que uma semente para se tornar uma árvore necessita de anos, não é por acaso que uma lagarta necessita de dias dentro de um casulo para só então se tornar borboleta. Tempo. Amadurecimento. Espera. Paciência. Em que parte do caminho nós abandonamos tudo isso? 
             A natureza continua seguindo seu ritmo. O sol não tem pressa de nascer e nem de se pôr, as plantas não tem pressa de crescer, os animais não nascem na véspera. Mas nós, seres humanos, vivemos "correndo contra o tempo", sempre atrasados, sempre com pressa, sempre de olho no relógio. E esquecemos que nossa pressa tem nos roubado anos, tem feito com que cabelos brancos nasçam antes do tempo, tem gerado colapsos em nossas veias, tem criado uma geração de ansiosos e estressados. Pra que correr tanto se o final dessa vida é a morte? 
             Calma! Seu filho vai nascer, você vai se formar, a sua promoção vai chegar, mas tudo na sua devida hora. Enquanto isso, aprecie as belezas do caminho, curta a gravidez, aproveite os novos aprendizados, construa relações, descanse, cuide da sua saúde, e saiba ter paciência. E acredite, entre o início e o fim do jogo há muitas coisas esperando para serem vividas, basta que você queira pular apenas uma casinha de cada vez. 

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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