É hora de descarrilhar

06:38:00


Tem horas que a gente precisa mesmo descarrilhar, sair dos trilhos, mudar o rumo, alterar a direção. Quem já viu um trem seguindo o seu rumo sabe que ele mantém sempre a mesma velocidade, passa sempre pelos mesmos lugares, faz o mesmo trajeto. E tem momentos que isso nos basta, manter o ritmo, apreciar as mesmas paisagens, conviver com as mesmas pessoas. Porém, chega um momento que isso já não nos preenche... E nessas horas a gente precisa descarrilhar. Sair do trilho significa primeiro romper com o resto do vagão, segundo que envolve uma mudança brusca de vida e necessita de muita abertura para o novo que virá. Aos olhos de quem passa por ali, pode parecer que algo está errado, que algo saiu dos eixos. E realmente saiu. Todos os outros vagões seguirão seu curso, mas você continuará parado ali. Pessoas passarão por você, virão dias de sol e de tempestade, os outros trens continuarão passando por aquele trilho... Sair dos trilhos não significa perder o rumo. Sair dos trilhos significa reconstruir, repensar, recalcular o rumo. É comodo andar sempre nos trilhos, mas é necessário perder-se dele às vezes. Sair do lugar confortável, deixar as certezas de lado, se experimentar num novo papel, se descobrir diante do novo. Resolvi sair dos trilhos porque já não queria mais seguir por aquele mesmo rumo. E doeu sim, foi difícil sim... Cheguei a me arrepender algumas vezes, fiquei olhando para os vagões que seguiam aquele caminho que antes eu percorria e tive vontade de voltar para aquele lugar. Mas não voltei. Preferi permanecer ali. E descobri que eu não precisava nem mesmo ser vagão... Que eu podia ser outra coisa, podia seguir por outros caminhos e que já não precisava do conforto e da segurança que os trilhos me davam. Não quero ter um caminho pré-definido, não quero que me digam por onde eu devo seguir. Deixem que eu siga pelos caminhos que eu mesma resolvi abrir, que eu encontre o meu ritmo de caminhada e que eu tenha autonomia pra virar a volta quando eu bem entender. A vida de vagão já não me serve mais. Onde eu quero ir os trilhos não chegam.

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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