Minha mãe sempre fala: quer saber se um trabalho está bem feito, olhe o seu avesso. Acho que desde então eu adquiri a mania de olhar tudo pelos dois lados, querendo entender também os avessos. E foi com esse jeito que parei pra pensar, depois de ler uma crônica da Martha Medeiros com esse mesmo título, qual foi a melhor coisa que não aconteceu na minha vida. Poderia enumerar alguns acontecimentos, mas talvez o mais significativo é: a melhor coisa que não aconteceu na minha vida foi eu não ter continuado aquele namoro, que viraria noivado e depois casamento. É óbvio que não foi isso que pensei quando tudo aconteceu, é óbvio que na época eu já estava construindo meu castelo (só não sabia que moraria sozinha nele) e é óbvio que eu achava que o término era a pior coisa que poderia me acontecer. Não era. Pior seria estar numa relação com alguém pela metade, alguém que nada sabe sobre amor, alguém que não é capaz de se responsabilizar por suas atitudes e escolhas. E eu não teria descoberto o quão saudável é morar sozinha, o quão maravilhoso é viajar o mundo, o quão agradável é apreciar a minha própria companhia. Eu não saberia dizer qual o meu sabor preferido de sorvete, que ritmo eu gosto de ouvir, que lugares eu me sinto bem frequentando. Não saberia nem dizer ao certo quem eu sou, já que por algum tempo eu fui apenas uma sombra, fui a que concordava com tudo, a que achava tudo maravilhoso, a que não tinha opinião. Que bom que não aconteceu e que eu pude ter a oportunidade de viver tudo o que vivi após descobrir que a vida era muito mais que um castelo com príncipe e princesa. O avesso acabou por sendo o direito mesmo, não que esse seja perfeito, mas combina mais do que o que parecia ser perfeito, irretocável e inquestionável. Fico hoje com o avesso, que às vezes é meio torto, meio falhado... Mas é cheio de cores, de brilho e totalmente construído por mim. Hoje eu olho com outros olhos para aquilo que na época me soou como a destruição de um sonho e de muitos planos. Não havia sonho, não havia planos, aliás, havia apenas pra mim, que construí tudo sozinha. Ainda bem que deu tempo, ainda bem que aquilo que parecia ser a melhor coisa da minha vida não aconteceu, ainda bem que eu pude descobrir que a vida com você era boa, mas sem você, ela está sendo muito melhor.
Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor e de dar opinião sobre qualquer coisa. Cantora de chuveiro, campeã de matrículas frustradas na academia e aprendiz da arte de encerrar ciclos.
"Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor, mas tem opinião formada sobre bem poucas coisas. Aprendiz na arte de encerrar ciclos e de se abrir para novas experiências. Acredita em Deus e nas pessoas. Gosta muito do mar, de sol, da família, dos amigos. Corre, malha, faz trilha, come e bebe quando tem vontade. Sensível e durona, teimosa e manhosa: HUMANA.
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