Se apega sim!

06:58:00


"Não se apega não", não sei quem inventou essa frase, mas vejo a mesma sendo usada como filosofia de vida, sendo pronunciada aos quatro cantos, sem uma mínima reflexão a respeito disso. Decidi ler a descrição de um livro que anda circulando por ai com esse nome e eis que encontro essa frase: Desapegar: remover da sua vida tudo que torne o seu coração mais pesadoDesconfio que a palavra esteja sendo usada de forma, no mínimo, equivocada. Você sabe o significado da palavra apego? Vamos ao dicionário: sentimento de afeição, simpatia por alguém ou alguma coisa, sentimento de carinho direcionado a algo ou alguém. Retrocedendo ao período pós Segunda Guerra Mundial, Bowlby foi convidado a escrever um panfleto sobre a importância do apego na relação mamãe-bebe e declarou que um recém-nascido precisa desenvolver um relacionamento com, pelo menos, um cuidador primário para que seu desenvolvimento social e emocional ocorra normalmente. Até aí ainda não consegui compreender qual o problema de desenvolver apego por alguém. Ter afinidade, querer o bem da outra pessoa, ter carinho por ela, importar-se, dedicar-se, cuidar do outro... Me explica em que parte eu me perdi e essas coisas deixaram de nos fazer bem e fazer bem aos que nos cercam. Meu caro, o problema não é se apegar, é a quem se apegar. Uma vida sem apego é uma vida vazia, medíocre, monótona. E aliás, não sei em que livro ou manual consta que apegar-se ou não é uma decisão racional, passível de escolha livre, como se fosse possível enviar ao nosso cérebro uma mensagem capaz de nos bloquear de tal sentimento. Esquece. Nós precisamos nos apegar sim, antes mesmo de nascermos já precisamos nos vincular inicialmente com a nossa mãe e em seguida com aqueles que farão parte do nosso círculo. O apego tem papel fundamental na construção das nossas bases emocionais, desde as mais primitivas até as mais complexas. Apego não tem nada a ver com dependência e sentimento de posse, e muito menos é sinônimo de sofrimento. Apegue-se! Uma, duas, três, mil vezes. Vale a pena correr o risco... Pode ser que não seja recíproco e mesmo que seja, talvez a intensidade seja diferente. Mas, vale a pena. Passar por essa vida sem construir vínculos é um tremendo desperdício. Apegue-se sobretudo às pessoas e desapegue-se das coisas. Aprenda a se desapegar do seu passado, dos seus bens materiais, das suas mágoas, dos seus erros. Livre-se daquilo que não faz mais sentido, daquilo que já não acrescenta mais, que não arranca mais sorrisos. Mas, não deixe de se apegar. Pode ser que você se magoe, que se decepcione e que por um momento até decida nunca mais se apegar. Mas não há nada que possa ser feito, a vida não oferece nenhuma garantia, e ou você aceita correr riscos, ou fica inerte vendo a banda passar enquanto você só observa da janela. Vá viver! Vá se apegar! Vá cair! Vá levantar! Vá desistir! Vá recomeçar!

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"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


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