O que fica depois que a gente se vai

08:15:00


Li ontem uma história linda. Ela contava sobre um jovem advogado que foi contratado para fazer um inventário de um senhor que havia falecido. Para sua surpresa, o senhor não tinha deixado nenhum bem, porém, suas gavetas estavam cheias de fotos dos lugares que ele havia conhecido, e junto a elas estas linhas rabiscadas: 
Não construí nada que me possam roubar. 
Não há nada que eu possa perder. 
Nada que eu possa trocar. 
Nada que se possa vender. 
Eu que decidi viajar. 
Eu que escolhi conhecer, 
Nada tenho a deixar, 
Porque aprendi a viver. 
Compartilho da mesma ideia desse senhor, mais do que passar a vida acumulando bens, juntando coisas que o tempo leva, prefiro acumular sensações, experiências, emoções. Mais do que gastar 4 mil reais numa bolsa, prefiro passar uma semana apreciando o mar de sete cores, conhecendo outra cultura, fazendo novos amigos, aprendendo a dançar um ritmo diferente. Invés de ter um carro com teto solar, prefiro apreciar as estrelas deitada na areia de uma praia qualquer. Não coleciono sapatos, coleciono imãs de geladeira dos lugares pelos quais já passei. E isso vale pra várias outras coisas, não somente viagens. O que vai ficar são as risadas que você já deu, os amigos que conquistou, as emoções que vivenciou, o bem que fez a alguém. Fica às boas marcas que você deixou na vida das pessoas, todos os sorrisos que já conseguiu arrancar, às lágrimas que você ajudou a secar. Pare de acumular. E vá viver. Triste de quem passa a vida trabalhando mil horas por dia e não ta vendo os filhos crescerem, não está curtindo os últimos anos com os pais, não está apreciando o por-do-sol. De nada adianta o seu armário estar cheio de roupas se o seu coração está vazio de amor. De nada adianta ter o colchão mais caro da loja se a sua consciência pesada não lhe deixa dormir. Também não adianta dar todos os presentes para os seus filhos se o mais importante eles não tem: a sua presença. Prefiro ficar com aquilo que eu sinto do que com aquilo que os outros veem. Isso ninguém tira, ninguém rouba, ninguém leva. Quero chegar ao fim da vida tendo acumulado boas lembranças e histórias pra contar. Meus bolsos estarão vazios, meus armários terão poucas coisas... Mas minhas memórias... Ah, essas estarão transbordando.

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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