Chore!
10:37:00
Estava caminhando tranquilamente quando vejo se aproximar uma menina, de no máximo 17 anos que chorava sem parar. Ela não tava preocupada com as pessoas que passavam, muito menos tinha pretensão de esconder o que estava sentindo. Ela chorava, trazia no rosto um olhar de dor... E caminhava. Por um momento tive vontade de pará-la e perguntar se ela precisava de ajuda, se queria me contar o que aconteceu. Era 19:55 e eu tinha compromisso as 20:00, deixei-a passar. Confesso que desde ontem essa menina não sai da minha cabeça. Por que ela estaria chorando? Havia reprovado no colégio? O namorado teria terminado com ela? Acabara de receber uma notícia triste por telefone? Tinha recebido o diagnóstico de uma doença grave? Fora assaltada? Pensei em várias hipóteses e cheguei a conclusão de que, independente do que lhe havia acontecido, era notável que havia naquela história uma dor que não cabia em si, e precisou se transformar em lágrimas. Lágrimas que não podiam esperar, lágrimas que queriam mostrar ao mundo a dor daquela menina, lágrimas que traziam a mensagem de que algo não estava bem. Se eu a encontrasse novamente, com certeza, depois de tentar ajuda-la, lhe parabenizaria por ato de tão sutil coragem. Sorrir em público é bonito, é aconselhável, é louvável. E por que chorar também não é? Por que será que nos ensinaram a mostrar ao mundo apenas aquilo que temos de melhor? Nossas fraquezas, mazelas, nossos medos e tristezas deveriam ficar guardados onde ninguém tivesse acesso, inclusive nós. Assim sendo, nos ensinaram a negar a nossa essência, nos domesticaram para ser apenas aquilo que esperavam de nós. E não é que aprendemos direitinho? Choro sozinha no meu quarto mas ao sair dali imediatamente já estampo um sorriso no rosto. E assim vamos mascarando nossas emoções, vamos passando por cima dos nossos sentimentos... E vamos sorrindo, quando aqui dentro tem um poço de lágrimas querendo transbordar. Tão mais bonito e saudável é quando eu me apresento tal qual sou, tal qual sinto. Os outros não precisam ver sempre o meu sorriso, ou ouvir sempre as minhas gargalhadas, eu de fato não estou sempre bem. Deixem a menina chorar... Deixe-se chorar também. Uma hora a dor passa, a alegria retorna, o sorriso volta. Até que novas lágrimas surjam... humanos que somos.
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