Da minha dor, só eu sei...

05:31:00


"Mas não me consolem: da minha dor, sei eu." (Lya Luft) É, da minha dor só eu sei, da sua dor só você sabe, e da dor do outro? Da dor do outro nós muito pouco sabemos. É fácil identificar que há dor quando a minha frente alguém não segura as lágrimas e as deixa rolar em sua face... Mas o que dizer sobre aqueles que estão ao nosso redor e nunca derramaram uma lágrima sequer? Sem distinção, todas as pessoas que passam por nós trazem consigo alguma dor... Seja a perda de alguém que ainda machuca, o fim de um relacionamento que não teve uma explicação, o fracasso profissional que incomoda, uma mágoa guardada, um pedido de perdão não aceito, uma solidão escondida por trás de um sorriso, uma ferida que está custando a cicatrizar... Dor é um sinal que algo não está bem, que alguma coisa ainda nos incomoda. Mas, por outro lado, é uma prova de que ainda não perdemos a capacidade de nos sensibilizar, de nos comover e principalmente de sentir. O que ainda dói em você? O que tem roubado sua paz, seu sono, sua alegria, seu ânimo e sua vontade de viver? Foi o seu casamento que acabou? Foi seu amor que partiu? Foi a perda de alguém importante? Foi um sonho que não se realizou? Dói sim. Machuca, incomoda, aperta, arde. E cada um lida de uma forma com a sua dor, alguns choram, se lamentam e outros endurecem. Falo hoje aos que endurecem, aos que para se proteger da sua dor criam armaduras, aos que na tentativa de bloquear o sofrimento, bloqueiam a si próprios. Eis que vos apresento o "sem coração", o "casca grossa", o "coração gelado" pois é assim que eles são conhecidos. Aqueles que pouco se comovem, que são inabaláveis, inatingíveis. Aqueles que andam com passos firmes, cabeça erguida e até um ar de frieza. Quer saber? Esses tem bem "mais coração" do que aqueles que os julgam. Sabe como se formam os calos? De tanto algo machucar a pele, o organismo numa tentativa de se defender da dor, vai endurecendo a camada de pele que fica em contato com o que causa a dor. E quantas vezes nosso sofrimento foi insuportável a ponto de precisarmos endurecer, a ponto de nos envolvermos numa armadura. Sabe aquele cara da portaria que está sempre com a cara fechada? Sabe aquela atendente que nunca sorri? Sabe aquele chefe autoritário e intransigente? Já parou pra pensar que há dor por trás daquela cara amarrada, daquela antipatia e daquele olhar duro? Volto a frase que deu início ao texto: da minha dor, eu sei! Sem julgamentos então. Saibamos respeitar a dor do outro. Saibamos respeitar seus silêncios e a sua "casca grossa". Hoje é ele quem sofre, amanhã pode ser eu ou você. Com amor a casca amolece, com carinho a armadura desmonta, com atenção o gelo derrete.

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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