Mais presenças, menos presentes
08:12:00
Das muitas memórias felizes da minha infância eu me recordo das brincadeiras de esconde-esconde, pega-pega, carretão, gangorra, taco, corda, elástico, a galinha chocou, firrolho-firrolho e tantas outras que fizeram parte desses momentos. Lembro que éramos um grupo de umas 8 crianças, nascidas e criadas no interior e nos encontrávamos todos os dias na rua pra brincar. Quando chovia era aquela festa, íamos pra estrada com enxadas e pás, construir aquilo que nós chamávamos de represinhas. Brincávamos, íamos pra escola e voltávamos pra brincar mais um pouco. Bastava o primeiro chamado da mãe ou do pai e em um minuto já estávamos dentro de casa, prontos pra fazer os deveres, tomar banho e dormir. Raramente assistíamos televisão, não tínhamos computador e celular era um aparelho que pesava umas 500g e nós nem entendíamos muito bem a utilidade dele. E por incrível que possa parecer, éramos muito felizes e conseguimos sobreviver sem ipad, iphone e Xbox. Espiga de milho virava boneca, cadeira e lençol viravam cabaninha, galho de árvore virava avião. Vivíamos com os pés descalços, às vezes não lavávamos a mão antes do almoço, passávamos pasta de dente nas queimaduras e beijinho era a cura de um joelho ralado. É certo que tivemos algumas infecções alimentares, inflamações desnecessárias e algumas micoses, mas não é que sobrevivemos? Meu caro, criança precisa de muito pouco pra ser feliz e crescer saudavelmente. Se aproxima o dia das crianças e tenho certeza que você já fez a lista de presentes. Sugiro que você inclua nessa lista os seguintes itens: vários abraços por dia, beijos sem moderação, elogios diversos, colo carinhoso, muita paciência, uma boa dose de empatia, bastante sensibilidade, vários quilos de afeto e muito, muito amor. E sabe o que mais meu amigo, inclua ai, estarei presente. Isso é muito mais importante do que dar presentes. Tenho muitas memórias felizes da minha infância e sabe quais são elas: o dia que meu pai tirou as rodinhas da minha bicicleta, segurou o banco e eu andei sem ajuda pela primeira vez. Um dia que eu cheguei em casa chorando porque tinha ralado o joelho e ganhei vários beijinhos da minha mãe. De um dia que minha tia encheu seu fusquinha azul de sobrinhos e nos levou pra Barra da Lagoa pra brincar na praia. Quando olho pra trás, a recordação não é das coisas, dos brinquedos, mas sim dos momentos e das pessoas que estavam ali. E você, qual a recordação quer que seus filhos, sobrinhos, netos tenham da infância? Quer ser lembrado como o pai/mãe/avô/tio que dava presentes ou como aquele que se fazia presente? Que esse dia das crianças seja cheio de brincadeiras, estripulias, criatividade, imaginação e sobretudo, que seja cheio de presenças.
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