Cada um oferece aquilo que tem e transborda de dentro de si.

08:04:00



"Uma parreira oferece doce fruto, uma orquídea nos oferece bela flor. Um vulcão só oferece desolamento, calor, mal cheiro e larva, e não é segredo que uma cobra peçonhenta não te oferecerá mais que mortífero veneno. É bem verdade que podemos reunir tudo isso dentro de nós, mas lembre-se: as pessoas oferecem o que transborda de dentro de si. Quando fizeres o bem a uma serpente, não espere que ela te retribua com uma rosa, por que não é o que transborda de dentro dela. (...) Esse deve ser teu único pensamento e expectativa: Dê a quem precisa, não espere de quem não tem. Isto te dará felicidade e te privará de decepções. E não te eximas de fazer o bem à serpente, por que algumas coisas não nos cabe reprovar ou punir, apenas compreender..." (Augusto Branco)
Eis que passeando por alguns textos me deparo com essas linhas tão bem escritas. Só é possível dar ao outro aquilo que transborda em nós. Pensando por esse lado fica mais fácil compreender a assimetria em algumas das nossas relações: eu ofereço amor e em troca recebo frieza. Simples, se no outro não transborda amor, como ele irá oferecer isso a alguém? Nem sempre é um aprendizado fácil, nossa tendência é esperar reciprocidade, é esperar receber aquilo que oferecemos. Mas, entre uma decepção e outra vamos aprendendo que não importa o que nós iremos oferecer e o quanto iremos nos esforçar, algumas pessoas simplesmente não irão nos corresponder pelo simples fato de estarem vazias desses sentimentos que oferecemos a elas. É triste? É. É lamentável? É. Mas não há como fugir disso. E o que nós podemos fazer? Espalhar aquilo que de melhor há em nós: alegria, amor, carinho, afeto, humildade... Assim receberemos de volta sim, talvez não das pessoas as quais oferecemos, mas com certeza encontraremos outras que também estão por ai transbordando amor e alegria. Domingo aconteceram dois momentos em que senti o amor transbordando: no meio da visita a Orionópolis, enquanto cantávamos uma cantiga de roda uma das meninas soltou gritos e risadas tão fortes que seus gestos dispensavam qualquer palavra. Essa menina não consegue falar, nem andar, mas ela consegue sorrir... Quer retribuição maior que essa? Outra cena aconteceu quando fui me despedir de uma das moradoras, ela tinha passado a visita inteira quase sem interagir, mantendo seu movimento de se inclinar pra frente e pra trás. Quem olhava de longe até pensava que ela não estava gostando e nem se envolvendo, porém, ao me despedir dela, eis que me abraça e diz: muito obrigada. Que lindos gestos! Cada uma da sua forma, com as suas possibilidades, oferecendo o que elas tinham de melhor: a alegria e a gratidão. É triste quando o outro não é capaz de nos retribuir, mas isso não deve nos desestimular, muito pelo contrário, se estamos sendo pouco retribuídos é sinal de que o mundo precisa ainda mais de amor. Vamos espalhar as sementes sem nos preocupar com quem irá colher os frutos. Leve aquilo que você tem de melhor e não se entristeça se não receber aquilo que esperava. Lembre-se: não espere flores de uma cobra venenosa, não espere amor de alguém tomado pelo egoísmo. Faça a sua parte, o mundo precisa de pessoas que transbordam alegria, leveza, altruísmo, empatia, gratidão, generosidade, humildade e principalmente amor, muito amor.

Você pode gostar também:

0 comentários

Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

Mais lidos