A cura do amor

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"O cientista Brian Earp, de Oxford, acredita que os recursos para tratar a emoção se tornarão ainda mais sofisticados." Palavras veiculadas na revista Isto é, que circulou com uma matéria de capa onde se lia "A cura do amor". Perder o apetite, o sono, a vontade de sair de casa, não ter vontade nem de sair da cama, não se interessar por mais nada nem ninguém... Isso é coisa do passado. Basta alguns comprimidos e pronto, seu amor está curado e você prontíssimo pra encarar um novo relacionamento. Próximo passo é transformar os seres humanos em robôs que obedecem a qualquer comando, diga-se de passagem, falta muito pouco pra isso acontecer. Se há séculos atrás havia uma supervalorização do amor romântico, o que presenciamos hoje é a mecanização e a banalização desse sentimento tão complexo e tão intrigante. Todos sabemos bem que sofrer por amor não é lá algo muito agradável, a vida adquire tons acinzentados e o que antes parecia prazeroso, passa a ser visto como banal e sem sentido... Mas, querer tratar esses sentimentos e essas sensações com medicamentos entra no limite do inaceitável. É louvável os avanços que a indústria farmacêutica realizou nos últimos anos, descobrindo a cura para várias doenças, amenizando as dores e sendo aliada nos tratamentos de muitos transtornos psicológicos. Mas, por outro lado, temos assistido ao que chamamos de patologização da vida cotidiana. Crianças agitadas? Ritalina. Uma noite de insônia? Rivotril. Perdeu alguém querido? Fluoxetina. E agora nada mais nada menos que a cura para aquela dorzinha conhecida como dor de cotovelo. Me pergunto onde chegaremos com tais "avanços" da ciência. Meu caro amigo, sofrer de amor é dor doída, mas é dor bonita. É lamentar-se pelos momentos tão bem vividos e que deixarão de existir, é olhar com nostalgia as fotos daquela viagem tão bem aproveitada, é querer voltar no tempo para ter a oportunidade de dar de novo aquele abraço demorado. Sim, é isso mesmo, amor só se transforma em dor depois de ter sido parceria, carinho, alegria, sorrisos. E viver é isso mesmo, é ter momentos de alegria, euforia, mas saber aceitar também os momentos de dor, de solidão. A cura do amor já existe há muito tempo: amar sem medo, amar até a última gota, arriscar, se entregar. E se acabar? Paciência, meia dúzia de amigos e uma garrafa de vinho fazem um bem danado nessa situação. Vamos ter momentos de dor, vamos perder a vontade de levantar da cama, vamos ignorar até aquela nossa comida favorita... Vamos viver. Isso não é doença, é humanidade. Que descubram a cura para o Câncer, para o HIV, para o diabetes... E deixem o amor em paz. Ele não precisa de cura e nem de muita explicação. Ele só precisa de paciência pra começar, pra continuar e principalmente pra acabar.

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"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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