Sobre o que será ou o que poderia ser sido

11:19:00


Você chegou feito avalanche, me cobriu com seus exageros e suas declarações infindáveis de amor. Fez planos, me incluiu nos seus sonhos e quase me fez acreditar que poderia ser mesmo a hora de eu baixar a guarda. Não sonhamos juntos porque eu não conseguia te acompanhar nos seus vôos, mas eu tentei sair do chão. Você vivia nas nuvens e eu com passos firmes na terra, você vivendo na noite e eu no dia, você lua, eu sol. E feito sol e lua, realmente não houve encontro. Você tinha pressa, eu preferia ter calma, você se declarava, eu só sentia. Não sei quem parou de remar primeiro, mas eu sei que o barco parecia não mais se movimentar. Não culpo a você e não culpo a mim, talvez estivéssemos remando em sentidos contrários, ou talvez, você remava durante a noite pra um lado e eu durante o dia remava pro outro. A distância foi aumentando e a gente se perdeu. Viramos estranhos falando línguas diferentes. Eu tinha medo e precisava de certezas pra sair do chão. Você era avesso a certezas, queria viver cada dia de uma vez, com toda intensidade de quem não sabe se aquilo vai durar até o dia seguinte. Sim, eu sei que não me entreguei de verdade, sei que não baixei a guarda e sei também que você não esperava que seria tão difícil. Teve alegrias sim, teve muitas risadas, teve colo e teve pizza com vinho. Mas faltou parceria, faltou compreensão e faltou paciência. Nosso abalo emocional balançou algo que ainda era muito frágil, algo que ainda não tinha bases tão firmes assim para ficar de pé diante de uma tempestade como essa. Veio os primeiros trovões e balançaram as nossas expectativas, depois veio a chuva e levou um pouco das nossas certezas, e por fim o vento levou a nossa vontade de querer fazer dar certo. Poderia ter sido um monte de coisas, mas não houve tempo pra brotar, crescer e florescer. A gente não soube cultivar a semente, aliás, desconfio que erramos até na escolha do terreno. O seu terreno ainda não tinha sido preparado pra receber uma nova semente, e o meu? O meu ainda tinha as marcas de sementes anteriores que não produziram frutos. Não sei se tentamos o suficiente, não sei se já era hora de abandonar a plantação... Mas eu sei que estávamos ocupados demais cuidando de outros plantios que esquecemos de nos regar e nos cuidar. Não sei se já morreu, ou se apenas murchou.. Não sei se ainda dá tempo de tentar mais uma vez. Fico apenas com a sensação de que de todas as flores que poderiam ter desabrochado, ficou apenas na tentativa da semente jogada na terra. Ainda dá tempo? Não sei. Ainda dará flores? Também não sei. Vamos deixar que a natureza siga o seu curso e torcer pra que as tempestades já tenham parado por aqui. Se não desabrochar, valeu a tentativa. Mas se vierem flores, que saibamos ter a maturidade e a paciência necessárias para aprender a cuidar do que é tão frágil. 

Você pode gostar também:

0 comentários

Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

Mais lidos