O que um sorriso não diz sobre nós

07:24:00

E a gente finge que nada está acontecendo, e ao fingir que nada acontece, finge que nada sente. Fingimos que não sentimos, fingimos que não dói, fingimos que não nos importamos. Olhar para nossas dores é incomodo, bater de frente com nossas fraquezas nos causa medo. Então seguimos respondendo que está tudo bem, que a vida está em ordem e que a felicidade é nossa hóspede constante. No apagar das luzes, no silêncio de um quarto escuro, na solidão de uma noite insone... Sentimos. Sentimos medo, angústia, dor, saudade, tristeza. Sentimos o peso das marcas que já deixaram em nós. Sentimos medo de que nossas escolhas não tenham sido tão acertadas assim. Sentimos o vazio de uma vida sempre ocupada por mecanismos de fuga. Quando não há platéia, quando não há seguidores, quando não há visualizações, temos espaço pra ser quem somos, pra sentir o que sentimos. E como a gente sente. Sentimos muito, expressamos pouco. Porque nesse mundo de prazeres constantes, felicidade duradoura, sorrisos estampados, não há espaço para mostrarmos todas as nossas facetas, então seguimos mostrando apenas nosso rosto sorridente. Mas, quantas marcas existem por trás disso? Quantas dores ficam maquiadas e escondidas? Quanta solidão há mascarada por trás de uma vida sempre ocupada? Nós somos a soma de tudo isso, não somos apenas alegria, não somos apenas sorrisos, não somos apenas dias de festa. Precisamos entender que a vida é sim uma soma de altos e baixos e que temos pouco ou nenhum controle sobre o que sentimos. Sentir tristeza, medo, angústia, raiva é tão comum quanto sentir alegria. Não há nada de errado em ter dias difíceis. Então a gente precisa falar mais sobre isso, a gente precisa aprender a pedir ajuda quando o fardo estiver pesado demais, a gente precisa aprender a dizer que as coisas não estão bem, a gente precisa respeitar os nossos momentos de tristeza. Sem máscaras, sem sem fugas, sem falsos sorrisos. Permitir-se entristecer, chorar, lamentar. Permitir-se dar vazão aos nossos sentimentos. Humanos! Apenas isso que precisamos ser. Humanos que choram, que sentem raiva, que se frustram. Humanos que sentem medo, que querem se isolar, que se sentem perdidos. Humanos que se magoam, que se decepcionam, que se arrependem. E humanos que são capazes de aceitar as idas e vindas, os altos e baixos, as chegadas e as partidas, o medo e a coragem, a alegria e a tristeza, a raiva e a gratidão, o ressentimento e o perdão.

Você pode gostar também:

0 comentários

Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

Mais lidos