Enquanto isso
10:24:00
Mal chegamos no restaurante e já queremos que o nosso prato esteja servido. Fizemos uma compra pela internet e no outro dia já estamos ansiosos esperando o carteiro. Mandamos uma mensagem no celular e em segundos já queremos a resposta. Somos contratados e em dois meses já queremos chegar a um cargo de chefia. Nem bem nos formamos no ensino médio e já queremos ter salário de graduados. Começamos a praticar algum esporte e em um mês já queremos ter desempenho de atleta de alto nível. Mudamos a alimentação e na próxima semana já queremos que a balança altere seus ponteiros. A semana mal começa e já estamos pensando na sexta-feira. Temos urgência, queremos tudo hoje, tudo agora, tudo imediatamente. Não queremos esperar o cozimento, a preparação, a maturação, o desenvolvimento. Diria um desses autores de internet: "pra que tanta pressa se o que nos espera no fim é a morte?" Na ânsia pelo o que ainda não temos, estamos nos esquecendo de aproveitar aquilo que já é nosso, aquilo que já é presente, aquilo que já pode ser vivido agora. Podemos ter ambição sim, podemos querer chegar mais longe sim, podemos sonhar com vôos mais altos sim, mas enquanto isso a vida está passando, e será que estamos sabendo aproveitar o que temos agora? Comidas precisam de fervura e tempo adequado de cozimento, relacionamentos precisam de tempo de convivência para evoluírem, nosso corpo precisa de treino e adaptações para chegar onde queremos... E há que se ter paciência para saber esperar o momento certo de cada coisa. A natureza está ai nos ensinando todos os dias, nos mostrando que há um tempo para cada coisa, há tempo de plantar, há tempo de colher e há tempo de esperar pela colheita. Nossa pressa insana tem atropelado os ensinamentos que poderíamos ter caso tivéssemos mais calma e paciência para saber esperar a hora certa de cada coisa. Isso não significa cruzar os braços e esperar que tudo caia do céu, isso significa saber apreciar as belezas do caminho enquanto ainda não cruzamos a linha de chegada. Nos esquecemos que não somos máquinas, que não seguimos a uma programação pré-determinada... Nos esquecemos que demoramos nove meses pra nascer, mais um pra começar a andar e a falar, mais alguns pra aprender a ler e por ai em diante. Saibamos esperar... A ansiedade, em termos simples, nada mais é que excesso de futuro, excesso de amanhã. Logo, se há excesso de amanhã, é bem provável que haja falta de HOJE. Enquanto a nossa comida não chega, que a gente aproveite pra abraçar, acariciar, conversar, confidenciar. Enquanto ainda não conquistamos um alto desempenho que a gente aproveite pra conhecer melhor o nosso corpo e nossos limites. Enquanto não entramos numa calça 36 que a gente aprenda a escolher melhor aquilo que comemos. Enquanto a promoção não chega que a gente aproveite o tempo livre e a cabeça desocupada. Enquanto estamos vivos que saibamos aproveitar o hoje, as pessoas que nos cercam agora, o cargo que temos nesse momento, o que já conquistamos até aqui... O amanhã? talvez ele nem virá.
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