Pelo legítimo direito de entristecer-se

11:29:00



Eu sei que o sofrimento tem visitado o seu coração. Não é preciso que fales sequer uma palavra pra que eu perceba que há muita dor escondida por trás desse sorriso que teimas em carregar. Sei que tens chorado no silêncio do seu quarto depois que todos já foram dormir. Sei que tens buscado em vão alguma resposta para explicar essa dor que sentes. É madrugada e mais uma vez o sono ainda não veio, vieram apenas algumas lembranças, um tanto de saudade, um sentimento daquela mágoa que lhe corrói. Não veio o sono mas veio o medo, não veio o sono mas veio a insegurança. Em vão tens lutado para afastar essa dor que insiste em ficar. Dói e parece que não vai passar, que vai doer pra sempre. Mas não vai. Assim como a alegria não dura pra sempre a tristeza também há de ter um fim. Mas você precisa passar por ela, precisa aceitar que haverão dias que não terá sequer vontade de abrir os olhos e enxergar o mundo lá fora. Lágrimas rolarão pela sua face e não haverá sequer vontade para enxugá-las. Você vai olhar ao seu redor e vai questionar-se: por que comigo? Por que eu? Eu não sei porque com você, não sei porque comigo, mas sei que não importa pelo o que você estiver passando, sempre haverá um novo dia, um novo sonho, um novo amor e um novo rumo. Sua dor é legitima e precisa ser vivida e sentida até a última gota... Aos poucos esse sentimento cederá lugar a esperança do recomeço. E surgirá um novo amanhecer. Eu não sei o que te aflige hoje, não sei o que tem lhe tirado o sono. Desconheço os motivos pelos quais a sua alegria lhe foi roubada. Mas eu sei que tristeza é um sentimento que precisa ser vivido até esgotar-se e que precisa de espaço para que isso aconteça. Não mascare a sua dor, não entre no oba oba das ilusões que só ampliarão o seu sentimento de vazio, não se desconecte pintando de cor de rosa aquilo que precisa nesse momento ser cinza. Viva, apenas isso. Chore, se lamente, esperneie, grite... Faça o que for preciso, mas não desista. Repito: haverá sempre um recomeço. Seja uma decepção amorosa, a perda de alguém querido, uma demissão, uma briga, a perda de algo material... Faça-se hoje a seguinte pergunta: daqui há dez anos isso ainda importará pra mim? Provável que não, provável que no máximo ficará apenas a lembrança de algo que doeu sim, que machucou sim, mas que passou. Pode ser que o dia de amanhã não amanheça diferente, nem depois de amanhã. Então, por enquanto, apenas aceite. Aceite que viver envolve dor e envolve amor, tem alegria e tem tristeza, tem reencontro e tem saudade, tem chegadas e tem partidas... Seja lá em qual dessas fases você estiver hoje, viva. A dor vai passar sim, talvez amanhã, talvez semana que vem, ou daqui há um mês. A tristeza, assim como qualquer outro sentimento, só quer o direito legítimo de existir. Se for pra chorar chore, se for pra se trancar dentro de casa se tranque, se for pra não querer ver ninguém não veja... Faça tudo o que for necessário para legitimar a sua dor. Até que ela não precise mais existir, até que esgotada ela arrume as suas coisinhas e parta. Desejo que a tristeza demore a voltar, que ela tenha se cansado de você e queira ficar longe por um bom tempo... Desejo que a alegria, a esperança e o amor batam novamente a sua porta e que você não demore pra abrir. Mas desejo também que você saiba reconhecer cada um desses sentimentos e que eles não venham mascarados, nem maquiados. Desejo que a tristeza não faça morada em seu coração, que ela apenas veja em você um abrigo passageiro. E que venham novos e bonitos sentimentos. Escutou? Corre lá. Pode ser que seja a felicidade batendo a sua porta.

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Quem sou

"Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Quer me entender? Não precisa."


Fernanda Mello

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