Quando a boca cala, o silêncio fala
08:10:00
Lembro com clareza da época que eu ainda estudava pra ser psicóloga e um dos meus maiores medos era de que na hora da consulta o cliente/paciente ficasse em silêncio. Em uma das nossas supervisões, eu bastante intrigada com essa possibilidade, questionei a orientadora e ela apenas disse: silencie também. Confesso que isso me causou grande ansiedade por muito tempo, afinal, ficar em silêncio poderia passar a imagem de que eu não tinha as respostas ou soluções para o que a pessoa trazia de problemas. E quer saber? Eu não tinha mesmo e continuarei não tendo, afinal, cada um tem suas próprias respostas. Mas o que eu aprendi com tudo isso é que o silêncio tem tanto poder quanto as palavras. Recordo de um momento na minha vida que eu estava passando por uma situação bem delicada e eu realmente não queria falar, sequer dar explicação de porque eu estava triste. Lembro que olhei para o meu pai, sentado no sofá da sala, sentei ao seu lado, deitei no seu colo e, chorando, permaneci em silêncio por muito tempo. Naquele momento eu não queria ouvir nada, não queria conselhos, nem tampouco queria contar o que estava acontecendo. Meu pai na sua simplicidade, me acolheu no seu colo e me deu o que eu mais precisava: colo e silêncio. E em muitos momentos é só disso que precisamos. Nem sempre nós temos respostas, nem sempre temos conselhos e muito menos explicações, mas nosso silêncio, esse sim podemos oferecer em qualquer circunstância. Vai encontrar um amigo que está num momento delicado da vida? Abrace e silencie, ele saberá que você está em sintonia com a sua dor. Está no meio de uma discussão onde os dois já perderam a razão e estão se agredindo? Pare de falar e apenas ouça, palavras ditas no calor das emoções só servem pra ferir e machucar. Silêncio é colo, é abraço, é atenção. Silêncio é dizer ao outro sem usar palavras: olhe, eu estou aqui, não sei como posso lhe ajudar, mas estou do seu lado. Ficar em silêncio não é ser negligente, muito pelo contrário, é uma das formas mais bonitas de respeitar o tempo e o espaço do outro. Silenciar é ser humilde para reconhecer que naquele momento a única coisa que eu posso lhe oferecer é a minha presença. E isso já é muito. Assim, reconhecemos que não temos todas as respostas, que falta-nos palavras e que nem sempre sabemos como reagir em determinadas situações. Com meu silêncio eu me coloco na posição de ser continente para o outro, de ser solidário com a sua dor... Você poderá se arrepender por ter dito muitas palavras, mas jamais vai se arrepender por ter oferecido o seu silêncio.
2 comentários
Muito bom!!! Como diz o ditado: "falar é prata, calar é ouro"!
ResponderExcluirMuito bom!!! Como diz o ditado: "falar é prata, calar é ouro"!
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